Crescimento Otimista em 2025: Moody’s prevê PIB do Brasil em 2,5%

A agência de risco Moody’s Analytics surpreendeu o mercado ao revisar para cima a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para 2,5% em 2025. O otimismo, detalhado em relatório sobre a América Latina divulgado nesta quarta-feira (8), coloca a agência com uma perspectiva ligeiramente mais positiva do que o consenso de mercado, atualmente em 2,16% conforme o último Boletim Focus.

A performance econômica brasileira, que a agência classifica como “melhor do que o esperado neste ano”, é atribuída primariamente a dois pilares de sustentação: um mercado de trabalho robusto e a força da moeda nacional, o Real. Segundo a Moody’s Analytics, esses fatores têm sido os principais motores do consumo privado, injetando dinamismo na economia.

Projeção para 2026 e o impacto da Selic

Apesar do cenário favorável para o ano corrente, o horizonte se mostra mais cauteloso para 2026. A agência projeta uma desaceleração do crescimento do PIB brasileiro, que deve recuar para 1,8%. Essa previsão está intimamente ligada à manutenção de uma política monetária restritiva.

O relatório aponta que a persistência das atuais restrições monetárias, somada à tradicional cautela do ciclo eleitoral, deve impactar negativamente o investimento. A expectativa do mercado, inclusive a sinalizada pelo Banco Central, é que a taxa básica de juros, a Selic, seja mantida em um patamar elevado de 15% por um “longo período”, mesmo após o encerramento do ciclo de alta. Esse cenário de juros altos tende a frear o ímpeto da economia a médio prazo.


Matéria sobre a previsão de crescimento do PIB no Brasil (Vídeo: reprodução/YouTube/InfoMoney)

América latina mostra resiliência, mas abaixo do potencial

O olhar da Moody’s Analytics se estende para toda a América Latina, que demonstrou resiliência ao longo de 2025. A região, apesar de enfrentar desafios como a inflação, taxas de juros elevadas e incertezas globais (incluindo tarifas dos Estados Unidos), projeta um crescimento de 2,3% em seu PIB regional. No entanto, a agência classifica esse número como “abaixo do potencial” da região.

A partir deste mês, a América Latina entra oficialmente em uma temporada eleitoral, começando pela Argentina em outubro e Chile em novembro. Esse fator político é considerado crucial, devendo influenciar consideravelmente os rumos econômicos regionais. Seguindo a tendência brasileira, a projeção é que a região também registre um recuo em 2026, com o crescimento do PIB caindo para 2%. A agência adverte que as incertezas continuarão a ser um desafio adicional, especialmente para o México, devido à sua forte dependência comercial dos EUA.

Vizinhança em Foco: Argentina e Chile

A análise detalhada dos vizinhos revela cenários contrastantes e complexos. Na Argentina, a economia sofreu uma deterioração após o governo de Javier Milei suspender os controles de capital, levando a uma corrida cambial e desvalorização acentuada do peso. Apesar do aumento nas taxas de juros ter prejudicado o consumo e o investimento, a Moody’s Analytics surpreendentemente projeta um crescimento de 4,5% neste ano e de 3,6% em 2026. Contudo, o relatório levanta preocupações sobre a governabilidade de Milei, que, segundo pesquisas, pode não obter maioria simples no Congresso. Isso poderia levar o mercado a desacreditar na continuidade das reformas fiscais e dificultar o avanço de sua agenda econômica.

Já no Chile, o cenário é de crescimento econômico desacelerado e mercado de trabalho enfraquecido. A deterioração da situação fiscal está frustrando os eleitores e deve dominar o debate nas campanhas presidenciais. Os analistas veem um cenário que “favorecerá coalizões da direita”, que podem assumir o controle da presidência e da Câmara dos Deputados, o que é visto como um “risco positivo para as perspectivas de finanças públicas e do investimento público”. A projeção para o PIB chileno é de 2,5%, impulsionada pela alta do cobre e uma política monetária mais flexível, desacelerando para 2% em 2026.

Decisão do Copom mantém Selic a 15% e alerta para riscos de inflação

Em um cenário de incertezas globais e pressões inflacionárias persistentes, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano. Essa decisão, que já era amplamente esperada pelo mercado financeiro, consolida a Selic em seu patamar mais alto desde julho de 2006 e sinaliza um tom de cautela ainda mais reforçado por parte da autoridade monetária brasileira.

O comunicado emitido após a reunião destacou um ambiente internacional mais adverso, influenciado principalmente pelas políticas comercial e fiscal dos Estados Unidos, o que amplia a volatilidade nos mercados e exige vigilância.

Flexibilização na comunicação do Copom

A manutenção da Selic por um período prolongado se justifica pelo caráter contracionista da política monetária, buscando conter uma inflação que teima em se manter acima da meta. Embora o comunicado de setembro reforce a preocupação com a inflação, ele adota uma linguagem mais flexível em comparação à comunicação de julho, quando a “continuação da interrupção” do ciclo de alta foi mencionada.

A retirada dessa frase sugere que o Copom não descarta a possibilidade de novos movimentos futuros, seja de alta ou de baixa, dependendo da evolução do cenário econômico.


Mesmo com deflação de 0,11% em agosto, Copom decide manter taxa básica em 15% ao ano (Vídeo: reprodução/X/UOL)

Internamente, o Copom observa sinais de moderação na atividade econômica, mas ressalta que o mercado de trabalho continua aquecido. A inflação, por sua vez, segue resistente, com as expectativas para 2025 e 2026 ainda desancoradas.

O Comitê reconhece os riscos para a inflação em ambas as direções: para cima, com a resiliência dos preços de serviços e a possibilidade de um câmbio mais desvalorizado; e para baixo, com uma desaceleração econômica global mais acentuada e a queda dos preços das commodities.

Cenário internacional adverso reforça postura cautelosa do Copom

No âmbito externo, o comunicado enfatiza a preocupação com as tensões geopolíticas e, principalmente, com o comportamento da economia americana. A política do Federal Reserve, que horas antes havia anunciado um corte de 0,25 ponto percentual em sua taxa de juros, impacta as condições financeiras globais e requer uma atenção redobrada dos países emergentes. O comunicado ressalta que a conjuntura internacional mais adversa e as tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil contribuem para um cenário de maior incerteza.

A decisão do Copom e o teor de seu comunicado foram vistos pelo mercado como um sinal de que o Banco Central não fará concessões e que um afrouxamento monetário só deve ocorrer diante de uma melhora significativa do cenário. A avaliação de economistas é de que o balanço de riscos para a inflação segue elevado, e a cautela da autoridade monetária é a principal ferramenta para garantir a convergência da inflação à meta no médio prazo.

JP Morgan projeta Selic em 10,75% e Brasil se destaca na América Latina

O relatório mais recente do JP Morgan destaca uma visão de otimismo para o mercado de ações brasileiro, com projeção de 10,75% na Selic. De acordo com analistas, fatores como a perspectiva de cortes nas taxas de juro e a crescente aproximação das eleições de 2026 reforçam um caminho positivo para um novo recorde no mercado. Além da projeção, o Brasil também teve destaque entre os países vizinhos da América Latina.

A previsão de acordo com a empresa de serviços financeiros é de que a Selic, atualmente em 15%, começará a ter queda por volta de dezembro, com um corte de 4,25 pontos, posicionando a nova taxa em 10,75%. Segundo a JP Morgan, o ciclo atual da Fed (Banco Central dos EUA) está diferente dos anteriores. Anteriormente, os cortes no Banco Central americano ocorriam em períodos de crise, obrigando os bancos da América Latina a elevarem suas taxas. Entretanto, com o enfraquecimento do dólar mundialmente, países como o Brasil tem a possibilidade de subirem na economia através de cortes de juros.

Saída e entrada de bancos

Paralelamente, o levantamento do JP Morgan sinaliza mudanças no portfólio de investimentos no Brasil. O Banco do Brasil foi retirado da lista de recomendações por deterioração da qualidade dos ativos do agronegócio, de acordo com o JP Morgan. Conforme último balanço divulgado pelo BB, o lucro líquido ajustado registrou uma queda de 60%, com a inadimplência rural sendo um dos principais motivos relatados. 

Em contrapartida a saída do BB, o Nubank ganha espaço no portfólio da gigante. O banco digital é visto como promissor pelo JP Morgan, com a tese sendo sustentada pela alta de operações no país e pela expectativa de que sua unidade no México alcance um equilíbrio. 


Nubank entrou na lista de recomendações do JP Morgan (Foto: reprodução/Cheng Xin/Getty Images Embed)


Análise da América Latina

A pesquisa do JP Morgan também se estende para outros países da América Latina, com resultados positivos e negativos nos mercados latino-americanos. A Argentina, em particular, é um dos países com resultados positivos no relatório. Os fatores citados incluem a queda da inflação, crescimento econômico acelerado e a redução do déficit fiscal. De acordo com os analistas, esses fatores atraem potencialmente investidores estrangeiros.

No campo neutro, o México e o Chile mantêm estabilidade em seus mercados. Contudo, as negociações do USMCA (acordo comercial entre os países da América do Norte) podem acarretar mudanças no cenário mexicano. 

Já nos resultados negativos, o Peru segue com recomendação de subpoderação e a Colômbia enfrenta um panorama com mais desafios ainda, através do agravamento fiscal e incertezas na política. Ambos os motivos negativos tornam os países menos atrativos para investidores. A percepção é de que, apesar dos avanços em alguns países, é o Brasil quem apresenta um momento mais favorável para investimentos, através de fatores internos que o posicionam de forma mais atrativa.

Dólar e inflação aumentam, mas economia cresce e desemprego caí

Na última sexta-feira do ano, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou os índices de desemprego, empregos de carteira assinada, e o IPCA-15. Estes dados econômicos são muito relevantes para compreender como foi o ano para o país, em especial para a economia, e como o ano deve iniciar. Apesar do número positivo da queda do desemprego, os preços estão aumentando cada vez mais.

Os dados de economia divulgados pelo IBGE

O teto da inflação ultrapassou a meta definida pelo Banco Central, tendo crescido 0,34% em dezembro, e fechado o ano com uma alta de 4,71%. Os gastos que mais impactaram o bolso da população foram com alimentos, bebidas e despesas pessoais, como educação e saúde.

Segundo os índices de desemprego, a taxa de desocupação baixou para 6,1%, o menor patamar da história desde 2012, quando se iniciou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Além disso, foram abertos mais de dois milhões de postos de empregos formais.

Aumento da taxa Selic

Em uma tentativa de frear o acréscimo pelo qual o país passou, o Banco Central elevou a taxa Selic para 12,25% na última reunião do Copom, além de ter sido deliberado novas adições para o próximo ano.

A decisão não foi bem aceita pelo presidente Lula e pela ala do PT, que passaram o ano criticando as decisões, como ter mantido a taxa em 10,5%. Em junho, o presidente havia dito que o mercado financeiro foi o enfoque para que o Banco Central mantivesse os juros na reunião que houve com o Copom.

Lula afirmou que seu governo investe no povo brasileiro, enquanto que o BC optou por focar no sistema financeiro, “nos especuladores que ganham dinheiro com os juros”.


O presidente Lula critica decisões do Banco Central (Vídeo: Reprodução/X/@lazarorosa25)

Reação do mercado financeiro perante a economia

A conduta não foi bem recebida no mercado financeiro, e economistas criticaram o modo como a equipe econômica agiu perante as contas públicas. Segundo estes, houve um pessimismo perante o corte incisivo nos gastos que não ocorreu, o que fez com que se duvidasse se o arcabouço fiscal seria ou não cumprido.

Essa incerteza causou um aumento no dólar de mais de 25%, fazendo-o atingir a alta de R$ 6,27. A fim de brecar a ação, o BC fez uma intervenção recorde na moeda estadunidense em dezembro, por meio de leilões.

As expectativas do mercado sobre o IBOVESPA também não foram atendidas, com o índice tendo caído mais de 10% em 2024; nesta sexta-feira, a queda fechou em 0,67%, com 120.269 pontos.

Dólar permanece resistente em meio à diferença de juros

Apesar da expectativa de que a Selic atinja 11,25% até o final do ano, o dólar continua apresentando resistência em sua trajetória de queda. Economistas apontam que, mesmo com a elevação da taxa de juros no Brasil, fatores de risco interno podem estar pesando mais na balança do que os atrativos oferecidos por uma maior rentabilidade.

Um dos principais motivos para essa resistência é o aumento dos gastos públicos, especialmente em um ano eleitoral. As incertezas políticas que costumam acompanhar o período pré-eleitoral geram apreensão nos investidores, que temem que a sustentabilidade fiscal do país possa ser comprometida. Segundo o economista João da Silva, “os investidores tendem a ser cautelosos diante da possibilidade de um aumento nos gastos, o que pode levar a um descontrole nas contas públicas.”


O cenário social afeta no valor do dólar (reprodução/Javier Ghersi/Getty Images embed)


Cenário econômico e expectativas futuras

Além dos riscos fiscais, a instabilidade política e social também influencia a cotação do dólar. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a inflação permanece acima das expectativas, pressionando o Banco Central a adotar uma política monetária mais rígida. Isso, por sua vez, pode limitar a eficácia do aumento da Selic na atração de investimentos externos.

Os economistas ressaltam que a atual disparidade entre as taxas de juros brasileiras e americanas, que tem se ampliado, ainda não é suficiente para inverter a tendência de valorização do dólar. Conforme a análise do banco central, mesmo que os juros no Brasil sejam mais altos, a incerteza em torno das políticas econômicas e o potencial de um cenário adverso para o crescimento fazem com que o mercado permaneça cauteloso.

O impacto das eleições na economia

À medida que as eleições se aproximam, a preocupação com a gestão econômica se intensifica. Historicamente, períodos eleitorais no Brasil são marcados por volatilidade nos mercados, e os investidores buscam sinais de estabilidade e compromisso com reformas fiscais. O economista Maria Oliveira destaca que “as promessas de aumento de gastos durante campanhas eleitorais podem gerar um efeito desestabilizador, levando os investidores a repensar suas estratégias.”

As expectativas em relação aos novos governantes também desempenham um papel crucial. Os analistas do mercado estão de olho nas propostas dos candidatos, especialmente no que diz respeito à responsabilidade fiscal e à condução da política monetária. Para o Brasil conseguir atrair investimentos em um cenário internacional desafiador, a confiança dos investidores será fundamental.