Uma pesquisa do Instituto de Psicologia (IP) da USP foi realizada com adolescentes brasileiros e apontou que 85% deles jogavam videogame, sendo que 28% e se encaixam nos critérios do Transtorno de Jogo pela Internet (TJI). Esse transtorno é um distúrbio que acarreta prejuízos emocionais e sociais. Os resultados acendem um alerta para o prejuízo do uso excessivo de eletrônicos, especialmente por crianças e adolescentes. Ele leva ao desestímulo em outras áreas da vida, como a escola e as atividades sociais, e causa sintomas de abstinência quando retirados.
O estudo foi realizado por Luiza Brandão, doutora em Psicologia Clínica do IP, a partir de questionários com milhares de adolescentes de escolas públicas. A ideia do estudo surgiu de uma observação da profissional ao perceber um aumento no número de pais buscando apoio psicológico para seus filhos.
“Tenho percebido um aumento de procura por ajuda psicológica por conta de problemas envolvendo uso excessivo de videogames por essa população”, observou a psicóloga.
Segundo a pesquisadora, o uso de videogames no Brasil é compatível com o mundial, mas o índice de uso problemático de jogos eletrônicos está acima da média de outros países.
Para realizar a pesquisa, foram utilizados dados de um programa do Ministério da Saúde voltado para a prevenção ao uso de álcool e drogas por adolescentes. O #Tamojunto 2.0 foi inspirado em um programa europeu de prevenção escolar ao uso de drogas denominado Unplugged, que foi adaptado ao contexto brasileiro e testado por meio de um ensaio controlado randomizado entre alunos que cursavam o oitavo ano de 73 escolas públicas de três cidades brasileiras: São Paulo (SP), Eusébio (CE) e Fortaleza (CE). O programa consiste em 12 aulas desenvolvidas ao longo de um semestre letivo, além de oficinas direcionadas para os pais e responsáveis.
Os dados permitiram traçar um perfil de adolescentes com mais chances de usarem videogames de forma excessiva. De acordo com a pesquisa, esse grupo é formado majoritariamente por jovens do sexo masculino, usuários de tabaco e álcool, que praticam ou sofrem bullying, que têm nível clínicos de sintomas de hiperatividade e problemas de conduta e relacionamento entre pares.
Uso excessivo de vídeo game pode se tornar prejudicial(Reprodução/Veja Saúde)
Um dos itens do questionário perguntava: “Você já jogou para esquecer ou aliviar problemas da vida real?”. 57% dos adolescentes que participaram da pesquisa marcaram a resposta desse questionamento com “sim”.
Segundo Luiza Brandão, o uso problemático de videogames, além de afetar o próprio jovem, também afeta quem está ao redor.
“Como estamos falando de adolescentes que moram com suas famílias, o uso indiscriminado afeta quem convive com eles. Por exemplo, pode haver um crescimento dos conflitos para que os adolescentes desliguem o jogo, pode ocorrer um afastamento dos amigos e familiares ou aumento de comportamentos agressivos, o que piora os relacionamentos de maneira geral.” Afirma a pesquisadora.
Foto destaque: Controle de um console de vídeo game: Reprodução/G1