O novo sistema de reais digitais promete impactar a economia brasileira mais profundamente do que o Pix, sistema introduzido em novembro de 2020
Nessa quinta-feira (20) o Banco Central do Brasil começou a emitir experimentalmente os primeiros reais digitais, o que representa a adesão a uma grande mudança nas finanças que ocorre atualmente nos bancos mundiais de vários países.
Diferentemente das clássicas blockchains, o real digital fará parte da lista de “stablecoins”, valendo sempre um real a moeda digital será estável, não oscilando seu valor como a bitcoin, ethereum e outras criptomoedas já estabelecidas no mercado. O real digital vai fazer parte das CBDC (Central Bank Digital Currencies), moedas digitais de bancos centrais, e será emitido até dezembro em forma de teste no LIFT (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas), quando ganhará uma versão “demo”, que será apresentada ao público.
No Brasil, e no mundo todo, convencionalmente as transações de dinheiro digital, sejam elas quais forem, acontecem por vias de cartões de crédito ou débito, boletos em débito automático ou pelo Pix. Esse tipo de transação não chega a movimentar dinheiro físico de fato, somente acontece uma troca de informações entre os sistemas, informando as quantias monetárias transferidas.
No caso da moeda digital brasileira, ela não necessitará da autenticação de um banco para acontecer “O real digital ficará em ‘wallets’ e será transacionado entre elas”, disse Carolina Gladyer Rabelo, diretora da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), que representa mais de 115 instituições financeiras e de cooperativas de crédito, “As transações não necessariamente terão de passar pelos bancos.”. Com isso nenhuma pessoa necessitaria ter conta poupança, corrente ou de pagamentos num banco para receber seu dinheiro.
A mudança é profunda, e mesmo o Pix ainda depende da intermediação de um banco para acontecer, enquanto nessa nova modalidade financeira dos reais digitais, qualquer pessoa com um celular que tenha acesso à internet seria capaz de receber e transferir seu dinheiro, sem depender de um banco. Euricion Soares Pinho, diretor de inovação da ABBC, também aposta que as inovações do real digital não pararão por aí, “E há outras possibilidades, como por exemplo facilitar operações de câmbio entre o real e outras moedas digitais”.
Sede do Banco Central do Brasil (Foto: Reprodução/Poder360)
“Quando as transações financeiras migram de um ambiente bancário regulado para o blockchain, a primeira preocupação é a segurança”, disse Pinho alertando sobre os novos riscos que a inovação financeira pode trazer para os usuários e o sistema financeiro. “Como evitar fraudes e lavagem de dinheiro, por exemplo.” … “Essa transição digital pode assustar os bancos mais clássicos e tradicionais”, diz ele.
Naturalmente, os questionamentos de que se alguém tiver todos seus recursos financeiros dentro de seu celular, num wallet, o risco de perda ou roubo aumentam consideravelmente do que manter seu dinheiro guardado na conta bancária. Segundo Pinho, um dos problemas será se os sistemas de segurança e verificação vão conseguir acompanhar essa inovação tecnológica. “Isso vai levantar questões sobre até onde pode ir a vigilância do governo sobre os usuários”, disse a diretora Carolina Rabelo.
No dia 08 de novembro, a ABBC vai fazer o Conecta ABBC, um congresso em São Paulo, que pretende discutir essas mudanças financeiras no Brasil.
Foto destaque: Bandeira do Brasil sobre logo das criptomoedas Reprodução/Criptonizando