Clubes das Séries A e B voltaram a se reunir na sede da CBF para debater a criação de uma liga como forma de organização do Campeonato Brasileiro. Eles foram ao local para discutir as eleições na entidade e aproveitaram para fazer uma reunião sobre o assunto. No acordo costurado na reunião, os clubes concordaram com a manutenção da distribuição do peso dos votos nas eleições: Peso 3 para o voto das federações, 2 para o dos clubes da Série A e 1 para o dos da Série B. Assim, a CBF comprometeu-se a apoiar a criação de uma liga. Porém, nenhum documento formal foi produzido até então.
Além disso, a cláusula de barreira foi diminuída. Antes, quem desejasse concorrer à presidência da CBF deveria ter apoio de oito federações e cinco clubes da Série A. Agora, quatro federações e quatro clubes, tanto da Série A quanto da B, são suficientes. Mesmo isso sendo considerado uma vitória para os clubes, o foco era a liga.
Foram quase nove meses desde que o primeiro encontro ocorreu, em junho de 2021, durante a crise que levou Rogério Caboclo a ser removido da presidência da confederação devido às denúncias de assédio moral e sexual. Ontem, o segundo encontro foi na Assembleia Geral que definiu as regras para a próxima eleição, que terá o atual presidente interino, Ednaldo Rodrigues, como candidato único.
Ednaldo Rodrigues, presidente interino da CBF (Foto: Reprodução/Lucas Figueiredo/CBF)
Ao ge, dirigentes dos três poderes – clubes, federações e CBF – avaliaram que a vitória de Ednaldo Rodrigues na guerra política dentro da instituição foi importante para as conversas avançarem. O adversário de Rodrigues na disputa, Gustavo Feijó, outro vice-presidente, sempre se declarou contra a criação da liga. Em coletiva, Ednaldo disse:
“A liga está prevista nos estatutos de Fifa, Conmebol e CBF. Desde que atenda o ordenamento desportivo, respeitando calendários de CBF, Conmebol e Fifa, a CBF não vai se colocar contrária. Vai ser parceira até.”
Apesar de nenhum documento ter sido produzido, os participantes deixaram o local com sensação de avanço nas conversas. Principalmente na redução do afastamento entre o grupo “Forte Futebol”, formado por dez clubes que se denominam “emergentes”, e o grupo formado Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo, Red Bull Bragantino e Flamengo.
Ao menos no discurso, ambas as partes esclareceram que estão aparando arestas.
“Sempre houve diálogo, nunca teve isso de “fulano não fala com fulano”. Os clubes maiores entendem que precisam, sim, dividir melhor os recursos, como acontece nas grandes ligas do mundo. Não precisamos inventar a roda, a roda já existe. É seguir o que acontece na Inglaterra”, declarou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, integrante do “Forte Futebol”.
Já Duilio Monteiro Alves, do Corinthians, concordou, com uma expressão que foi dita por praticamente todos os dirigentes.
“O bolo precisa crescer, e quando crescer, precisa ser mais bem dividido. O produto fica ruim quando as disparidades são muito grandes. É claro que não tem como ser totalmente igualitária a divisão, que alguns vão ganhar um pouco mais, outros poucos menos, mas é possível diminuir as distâncias. E o diálogo hoje teve um grande avanço.”
Existe a expectativa entre os presidentes dos clubes da Série A de que a formatação da liga, pelo menos como produto, esteja pronta ainda em 2022. O objetivo disso é evitar o cenário descrito por um executivo de um banco de investimento ao ge.
“Temos um cheque aqui para investir na liga. Para quem entregar?”, disse ele.
A aproximação entre os clubes dos dois grupos também agradou aos executivos de empresas envolvidas nas conversas sobre liga. Os entraves seguem os mesmos: a divisão do dinheiro e como encaixar uma liga atrativa comercialmente no enxuto calendário do futebol brasileiro. Existe o consenso de que não seria atrativa uma liga espremida nos atuais seis ou sete meses de Campeonato Brasileiro.
Duílio, presidente do Corinthians, acredita o problema do calendário será resolvido com o tempo.
“Não adianta tentar resolver de maneira brusca. Tem que ser com diálogo.”
Foto destaque: Assembleia Geral da CBF. Reprodução/Lucas Figueiredo/CBF