O fechamento do maior aeroporto da Europa, o aeroporto internacional de Heathrow, em Londres, causou nesta sexta-feira (21) uma reação em cadeia no transporte aéreo comercial e mundial, provocando atrasos, cancelamentos e alterações de rota de voos em todos os continentes.
Um incêndio de grandes proporções em uma subestação ao redor do aeroporto gerou um apagão geral e causou transtornos para milhares de passageiros e dezenas de linhas aéreas. Apesar do tamanho de Heathrow, o terminal depende de uma única central de energia.
A administradora do aeroporto afirma que o gerador interno é suficientemente capaz de suprir a energia necessária para todas as operações, mas uma fonte do aeroporto contou à rede britânica BBC que os geradores e outras fontes de energia do aeroporto não seriam suficientes para suprir o apagão causado pelo incêndio.
Consequências do apagão
A interrupção das operações em Heathrow impactaram 1.357 voos de chegada e de saída. Foram 145,8 mil passageiros afetados, segundo informações da consultoria Cirium, publicadas pela agência de notícias Reuters.
Praticamente, foram 121 voos desviados de Heathrow para 50 aeroportos em 21 países diferentes, de acordo com o site de monitoramento de voos FlightRadar24. Eram todos aviões a caminho de Londres quando o aeroporto fechou. O impacto no Brasil afetou pelo menos dois voos da Latam e um da British Airways.
A pausa nas operações também afetou diretamente os horários de jornada de pilotos e comissários, que têm direito a um período de descanso e limite certo de horas de trabalho, que pode variar de país para país. Além disso, outro impacto sobre as tripulações foi o deslocamento até aeroportos alternativos, fora de suas costumeiras bases.
Sistema de hubs
Heathrow é um dos aeroportos mais movimentados do mundo e um dos principais hubs mundiais, por atuar como ponto de conexão entre centenas de destinos em 80 países. Todo ano, mais de 89 milhões de passageiros passam pelo local, o dobro do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Outros hubs mundiais importantes são os aeroportos internacionais de Dubai, Paris, Frankfurt, Atlanta, Singapura e Guarulhos.
Especialistas em aviação, em entrevista ao g1, afirmaram que não há como evitar a dependência dos hubs no funcionamento atual da aviação civil. Porém, concluem que o episódio em Heathrow serve para mostrar a necessidade de mudanças de protocolo e aeroportos secundários para atenuar eventuais ocorrências em grandes aeroportos.
O ex-diretor de relações internacionais da Azul e professor de economia do transporte aéreo da Universidade Anhembi Morumbi, Adalberto Febeliano, disse que “os hubs se popularizaram porque com eles hoje podemos atender um número maior de cidades no mundo inteiro de uma forma mais econômica. Não tem como escapar disso”. O professor ainda lembra que o Brasil passa pela mesma experiência pelo menos duas vezes ao ano por causa das fortes chuvas em Congonhas ou Brasília.
Não há escapatória, porque a aviação civil é um sistema, um conjunto de coisas que atuam para um mesmo fim, e o hub faz parte desse sistema.
Adalberto Febeliano
Para Febeliano, o grande desafio no momento é a vulnerabilidade que os hubs apresentam para a aviação, maior que outros fatores envolvidos nas operações aéreas. O motivo é que os hubs vêm sofrendo um aumento considerável do número de passageiros aéreos, além da questão da manutenção dos aeroportos, que deixa a desejar.
Atualização das operações em Heathrow
Segundo a Reuters, o Aeroporto de Heathrow retomou as suas operações completamente neste sábado (22). Entretanto, as linhas aéreas ainda precisam lidar com as consequências da interrupção dos voos, de acordo com o chefe executivo do aeroporto, Thomas Woldbye. “Não esperamos um grande número de atrasos ou cancelamentos de voo. Há alguns cancelamentos e há alguns atrasos. Estamos cuidando deles da mesma forma com que normalmente faríamos”, disse Woldbye à rádio BBC. A maior parte dos voos decolou com sucesso nesta manhã.
A paralisação em Heathrow não foi um evento inédito. Em 2010, os aeroportos europeus precisaram cancelar cerca de 100 mil voos devido a uma nuvem de cinzas vulcânicas na Islândia.