Aliados de Jair Bolsonaro veem semelhança entre voto de Fux e tese dos advogados de defesa
O voto do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, na noite de ontem, quarta-feira (10), absolvendo Jair Bolsonaro de todos os crimes pelos quais é réu e, optando pela condenação do general Braga Netto por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, tem provocado uma reviravolta no julgamento da Ação Penal 2668, inclusive […]
O voto do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, na noite de ontem, quarta-feira (10), absolvendo Jair Bolsonaro de todos os crimes pelos quais é réu e, optando pela condenação do general Braga Netto por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, tem provocado uma reviravolta no julgamento da Ação Penal 2668, inclusive entre os apoiadores e opositores do ex-presidente. Em seu voto, Fux alegou que o “plano golpista” beneficiaria um grupo de militares.
Ao defender esta tese, Luiz Fux seguiu a mesma linha defendida pelo advogado de defesa de Jair Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, durante entrevista dada em novembro de 2024, ao “Estúdio i”, telejornal apresentado pela jornalista Andréia Sadi. Na ocasião, ele afirmou que, segundo o plano conhecido como “Punhal Verde e Amarelo”, Bolsonaro não faria parte da junta militar que assumiria o poder em caso de sucesso da ação golpista. “Não tem o nome dele lá“, destacou Bueno.
Semelhanças entre as teses
O fato de o ministro Fux ter seguido exatamente essa linha de separação entre Jair Bolsonaro e os militares fez com que aliados do ex-presidente comparassem os argumentos e a semelhança entre as teses. Para especialistas, Fux reforçou a leitura de que o Supremo tenta individualizar as responsabilidades no núcleo político-militar que articulou o plano golpista. Ainda que o placar atual seja de 2 a 1 pela condenação, o voto de Fux pode influenciar os próximos ministros a reverem o papel de Bolsonaro nos eventos.
Durante a entrevista, em novembro de 2024, Paulo Cunha Bueno menciona que “o gabinete de crise seria formado por generais como Braga Netto e Augusto Heleno”. Segundo informações veiculadas na grande mídia, à época, as declarações do advogado geraram tensão interna no grupo, principalmente com Braga Netto, o qual se sentiu exposto e chegou a exigir a saída do advogado, algo que Bolsonaro não acatou.
Punhal verde e amarelo
Segundo investigações da Polícia Federal e depoimentos no STF, o plano denominado de “Punhal Verde e Amarelo” foi idealizado em 2022 por Mário Fernandes, general da reserva e ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Bolsonaro. O plano previa, entre outras ações, o assassinato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes.
Conforme relatório da PF, o documento foi impresso no Palácio do Planalto em 9 de novembro de 2022, contendo detalhes sobre métodos considerados violentos e letais, como por exemplo, envenenamento e uso de explosivos ou armamentos pesados, a fim de neutralizar as autoridades alvo dos planejadores.
Investigados na Ação Penal 2668, durante depoimento aos ministros do STF em junho de 2025 (Fotos: reprodução/Arthur Menescal/Getty Images Embed)
Durante o interrogatório conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o general Mário Fernandes admitiu ter redigido o plano, descrevendo-o como “um pensamento digitalizado”, “um compilado de análises de risco” que imprimiu apenas para leitura e depois destruiu. Ele declarou que o documento “não foi apresentado a ninguém, nem compartilhado com ninguém”. Conforme a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), também estava prevista a criação de um gabinete de crise, sob comando de militares de alta patente, para gerir a crise institucional no caso de êxito na execução do plano.
