Bolsonaro completa dois meses em prisão domiciliar entre articulações políticas e cuidados médicos

Entre crises de saúde e encontros políticos, Bolsonaro mantém influência nos bastidores enquanto aliados planejam 2026 e reforçam o pedido de anistia

06 out, 2025
Jair Bolsonaro | Reprodução/PABLO PORCIUNCULA/AFP / Getty Images Embed
Jair Bolsonaro | Reprodução/PABLO PORCIUNCULA/AFP / Getty Images Embed

O ex-presidente Jair Bolsonaro está em prisão domiciliar há dois meses, em sua casa em um bairro de classe média alta de Brasília. Nesse período, ele tem passado os dias entre encontros políticos, consultas médicas e momentos de lazer assistindo a jogos de futebol. Nos últimos 60 dias, Bolsonaro recebeu mais de 30 visitas de aliados e políticos, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

As conversas têm tratado principalmente das eleições de 2026 e dos planos para reorganizar a direita. Entre remédios espalhados pela casa e crises de soluço, o ex-presidente tem mandado recados sobre possíveis candidaturas e reforçado um pedido constante: a anistia.

Impasses políticos e problemas de saúde

Antes de o Congresso aprovar a urgência do projeto, Bolsonaro já deixava claro a seus aliados que não aceita nenhum acordo que não resulte em um perdão total. Alguns deputados do PL, ligados ao Centrão, tentaram propor uma solução intermediária com redução da pena para dois ou três anos e manutenção da prisão domiciliar, mas a ideia não agradou ao ex-presidente.

Essas articulações já enfrentavam dificuldades no Congresso e perderam força nesta semana, depois que o projeto de dosimetria, relatado pelo deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade/SP), deixou de avançar. Após a derrota da chamada PEC da Blindagem, até mesmo o PL da dosimetria, como o texto passou a ser chamado, perdeu apoio.


Publicação contestando a prisão de Jair Bolsonaro (Foto: reprodução/X/@FlavioBolsonaro)

Nas conversas políticas, Bolsonaro também tem dito que Michelle deve se candidatar ao Senado pelo Distrito Federal, Eduardo disputará outra vaga no Senado e Tarcísio de Freitas está livre para atuar nacionalmente.

A rotina do ex-presidente Jair Bolsonaro também tem sido marcada por cuidados médicos. Em outubro, ele ficou dois dias internado em um hospital particular de Brasília por causa de crises de soluço e refluxo, que têm piorado nos últimos meses. Ele passou por vários exames para avaliar o quadro de saúde.

Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) leu a sentença que o condenou, a possibilidade de ser transferido para o Complexo da Papuda virou uma preocupação constante entre seus aliados. A expectativa, porém, é que sua condição de saúde sirva de argumento para manter a prisão domiciliar.

Nesta semana, Bolsonaro quase precisou voltar ao hospital. De acordo com seu médico, Cláudio Birolini, os soluços pioram quando ele fala por muito tempo. A última crise aconteceu depois da visita do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que passou mais de duas horas em sua casa.

Rotina doméstica de Bolsonaro e bastidores políticos

O ambiente doméstico do ex-presidente lembra uma enfermaria. A sala onde antes aconteciam transmissões ao vivo e encontros com pastores agora tem receitas médicas e caixas de remédios sobre a mesa. Entre chás e comprimidos para o refluxo, Bolsonaro recebe aliados para discutir as eleições de 2026 e os palanques regionais. Mesmo assim, as conversas são mais curtas, já que ele tem dificuldade em falar por longos períodos sem interrupções causadas pelos soluços.


Publicação solicitando a soltura de Jair Bolsonaro (Foto: reprodução/X/@nikolas_dm)

Fora da política, Bolsonaro tenta manter uma rotina simples. Passa grande parte do tempo assistindo à televisão, alternando entre jogos de futebol e noticiários. Segundo pessoas próximas, ele costuma fazer comentários sobre sua condenação e o futuro da direita.

Durante o dia, o ex-presidente faz pausas para tomar remédios e chá, quase sempre preparados por Michelle, que também organiza a rotina da casa. Ela controla as visitas, cuida das refeições e lembra o marido dos horários dos medicamentos.

Enquanto isso, o senador Flávio Bolsonaro tem atuado como intermediário entre o ex-presidente e o Congresso, repassando mensagens e acompanhando negociações. Carlos Bolsonaro aparece com menos frequência, dividindo o tempo entre Brasília e Santa Catarina, onde deve disputar o Senado. Já Jair Renan tem passado períodos na casa do pai.

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