Como o PL das Fake News age comparado a projetos de outros países

Alexandre de Lima Olmos Por Alexandre de Lima Olmos
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Alvo de discussão nos últimos dias, o PL das Fake News visa criar regras para combater a divulgação de conteúdo falso e responsabilizar as redes pela circulação de conteúdo criminoso.

O projeto exige reparação de danos em casos de:

-Danos causados por conteúdos de terceiros, divulgados oficialmente através da plataforma de publicidade da rede.

-Danos recorrentes de conteúdos de terceiros, quando as empresas falharem em identificar crimes cometidos em suas plataformas.

O PL ainda impõe que as empresas analisem, identifiquem e relatem os riscos de seus algoritmos e serviços.

Entre esses possíveis riscos, os principais temas que as empresas devem inspecionar são:

-divulgação de conteúdos criminosos;

-liberdade de expressão, de informação e de imprensa;

-violência contra a mulher;

-racismo;

-risco ao estado democrático de direito e o processo eleitoral.

Veja abaixo a legislação de outros países em relação aos crimes virtuais:

União Europeia

-Lei de Serviços Digitais (2022): Regras para empresas na internet, com destaque para plataformas com mais de 45 milhões de usuários na Europa. Empresas devem lidar com o compartilhamento de conteúdo, produtos ou serviços ilegais;

-Em abril de 2023, uma regulação recente criou novas obrigações para plataformas gigantes, de prestar contas dos algoritmos aos reguladores e atualizar seus sistemas para garantir privacidade, segurança e proteção de menores de idade até o final de agosto de 2023.

-Comissão Europeia supervisiona de perto as grandes plataformas, podendo aplicar multas de até 6% do faturamento global das empresas.

Alemanha

-NetzDG, ou Lei de Aplicação da Rede (2017): plataformas com mais de 2 milhões de usuários devem entregar maneiras para que os usuários denunciem postagens. As empresas são obrigadas a derrubar conteúdo que seja “claramente ilegal” em até 24 após as denúncias;

-A ideia é combater a propagação de notícias falsas e/ou material ilegal.

-Quando uma postagem é identificada como material ilegal, as empresas recebem um prazo de sete dias para derrubar ou bloquear a postagem.

-Caso as empresas não cumpram com as obrigações, elas estarão sujeitas a multas de até 50 milhões de euros (cerca de R$ 275 milhões).

Estados Unidos

-Seção 230 (1996): Provedores de serviços na internet, como redes sociais, não são responsabilizados pelas publicações de seus usuários. Além disso, as empresas possuem proteção legal para remover conteúdo considerado inapropriado.

Australia

-Lei de Segurança Online (2021): As plataformas são responsáveis por proteger usuários e devem criar códigos para regular o conteúdo ilegal, como em casos de abuso infantil.

 

Segundo o deputado Orlando Silva, relator do projeto, a intenção não é restringir a liberdade de expressão e acesso à informação, pois esses são direitos dos usuários.

Além disso, o projeto busca penalizar usuários que promoverem ou financiarem a divulgação de informações falsas que possam prejudicar o processo eleitoral. A pena varia de 1 a 3 anos de reclusão com multa inclusa.


Orlando Silva em coletiva de imprensa (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)


Onze entidades representativas do setor de comunicação brasileiro, em especial a Associação Nacional de Jornais (ANJ), defenderam o projeto. Segundo essas entidades, o PL irá valorizar o jornalismo, uma ação muito importante para lidar com a desinformação nas redes.

O jornalismo de interesse público é a principal arma da sociedade para combater a desinformação e um importante instrumento para o exercício do direito de acesso à informação”, afirma o comunicado.

Pode ser um elemento decisivo para a formação de um ecossistema jornalístico amplo, diverso e saudável, capaz de se opor à difusão da desinformação e dos discursos de ódio. Tal ecossistema é essencial para a manutenção da própria democracia.”

Por outro lado, a Meta, dona do Facebook, afirmou que o projeto de lei cria um ambiente “confuso” e “insustentável”, onde eles podem, por exemplo, serem obrigados a pagar conteúdos falsos criados por supostos jornalistas.

“A lei proposta também não define o que é “conteúdo jornalístico”. Isso pode levar a um aumento da desinformação, e não o contrário”, declarou a empresa em um comunicado.

O Google afirmou que também trabalha para combater a desinformação na internet, e acredita que o projeto de lei irá prejudiçar a segurança dos usuários.

Foto destaque: Fake News. Reprodução/Pixabay

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