O adolescente Ahmed mora em Trípoli, no norte do Líbano, um dos locais mais pobres do Mediterrâneo. Apesar de ser muito jovem, Ahmed passa o dia trabalhando ao invés de estudar. Não por vontade própria: Ahmed precisa ajudar a mãe, que é doente.
Sobrevivendo com poucos dólares de seu trabalho exaustivo, o dinheiro mal é suficiente para a alimentação dos dois. Desesperado com sua situação e a de sua mãe, Ahmed achou uma saída: em um café em Trípoli, o adolescente começou a conversar com um homem que se identificava como recrutador do grupo Estado Islâmico.
“Eu estava estudando a Sharia (as leis islâmicas) e, todos os dias, eles nos ensinavam sobre o jihad (a guerra santa)”, conta Ahmed. “Eles nos contaram sobre o Iraque e sobre o grupo Estado Islâmico. Nós adorávamos o EI porque ele era famoso. Recebi o contato de um homem na prisão e ele me disse ‘vou mandar você para lá’.”
A BBC conversou com o jovem sobre os crimes violentos cometidos pelo EI e pediu para ele explicar o motivo de querer ser parte disto.
“Eu quis entrar no EI e ser um mujahid (combatente) porque não conseguia lidar com a crise por aqui”, explica ele. “Assim, eu ficaria perto do meu Deus e viveria com conforto, sem ficar sempre preocupado com o custo de vida.“
Trípoli sofre com falta de emprego, eletricidade, água e remédios. (Foto: Reprodução/MAHMUD TURKIA/AFP)
Ele disse ao seu recrutador que queria entrar, deixar o Líbano e viajar para lutar pelo grupo no Iraque e na Síria. Mas, em questão de horas, ele foi preso pela polícia.
Estima-se que, em 2021, aproximadamente 100 jovens libaneses tenham entrado para o EI. Não é apenas questão de aderir à ideologia extremista do grupo. Eles estão tentando escapar da pobreza de um país em crise.
Bakr Saif desapareceu um ano atrás. Ele estava prestes a se casar. Antes, havia sido preso e passou um tempo na prisão, mas ainda assim estava construindo um futuro com sua noiva. Ele não contou à sua mãe Umm Saif que planejava deixar a região.
“Ele nos disse que iria ver sua noiva e voltaria ao meio-dia“, ela conta, “Ele foi e nunca mais voltou.“
O exército iraquiano afirma que Bakr Saif saiu do Líbano e viajou para entrar para o EI. Eles apontam que Saif se envolveu em um ataque a uma base militar em Diyala, no Iraque, que resultou na morte de 10 soldados.
Em retaliação, nove membros do EI foram mortos dias depois em um ataque aéreo das forças iraquianas, Saif era um deles.
No início deste ano, os números de pessoas que entram para o EI começaram a diminuir. As histórias dos que saíram são conhecidas em Trípoli e tornam o horizonte de segui-los menos aliciador.
Foto destaque: O jovem Ahmed tentou entrar para o EI para não ter mais dificuldades financeiras. Reprodução/BBC