Trump anuncia novas tarifas sobre a Índia; total chega a 50%
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (6) uma tarifa adicional de 25% sobre produtos importados da Índia. A justificativa foi a importação indiana de petróleo russo, que contribuiria para, de acordo com o líder estadunidense, financiar as hostilidades contra a Ucrânia. A taxa se soma à de 25% imposta anteriormente, justificada […]
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (6) uma tarifa adicional de 25% sobre produtos importados da Índia. A justificativa foi a importação indiana de petróleo russo, que contribuiria para, de acordo com o líder estadunidense, financiar as hostilidades contra a Ucrânia.
A taxa se soma à de 25% imposta anteriormente, justificada como uma correção de assimetrias político-econômicas, e, com isso, gigante asiático pode chegar à taxação de 50% sobre o valor dos produtos exportados aos EUA. A nova medida entrará em vigor em 27 de agosto, com exceção de bens já em trânsito, para os quais ela passa a valer a partir de 17 de setembro.
Rússia é principal fornecedor de petróleo da Índia
Terceira maior importadora de petróleo bruto do mundo, a Índia aumentou em grande medida a compra do insumo russo desde o início da guerra com a Ucrânia, motivada por descontos oferecidos frente à diminuição da aquisição americana e europeia. Se, antes, a Rússia respondia por 2% do petróleo importado pelo país, o volume atual é de mais de um terço, o que torna o país vizinho seu principal fornecedor.
Narendra Modi e Vladimir Putin se cumprimentam na frente da imprensa durante visita de Modi ao Palácio do Kremlin, em Moscou, em julho de 2024 (Foto: reprodução/Contributor/Getty Images Embed)
“Eles não se importam com quantas pessoas na Ucrânia estão sendo mortas pela máquina de guerra russa”, disse Trump em um comunicado em sua própria rede social, Truth Social.
Após cinco rodadas de negociações, em que os indianos acreditavam poder manter o aumento de barreiras alfandegárias em até 15%, Nova Délhi recebeu a notícia com surpresa e classificou a decisão de Trump como “injusta, irracional e sem justificativa”.
O governo do primeiro-ministro Narendra Modi disse ainda que as importações do país “são baseadas em fatores de mercado e realizadas com o objetivo geral de garantir a segurança energética de 1,4 bilhão de pessoas”.
Índia participa dos BRICS
A “retaliação” sobre a economia de Nova Délhi já tinha sido comentada por Trump na semana passada, na Casa Branca.
“Eles têm o Brics, que é basicamente um grupo de países que são anti-Estados Unidos. É um ataque ao dólar, e não vamos deixar ninguém atacar o dólar”, afirmou o líder político e empresarial norte-americano, referindo-se à pauta da desdolarização.
Renata Lo Prete comenta a situação tarifária da Índia, Brasil e demais integrantes do BRICS em relação aos Estados Unidos (Vídeo: reprodução/YouTube/g1)
De fato, a Índia integra o grupo de países que se colocam como uma alternativa às grandes potências para os países menos desenvolvidos, no contexto da cooperação Sul-Sul. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento, em contraste ao Fundo Monetário Internacional, historicamente controlado pelos países mais ricos do Ocidente, e discussões sobre a substituição do dólar nas trocas comerciais questionam a então inabalável hegemonia dos Estados Unidos.
Além do engajamento no bloco, a pujância econômica indiana também se destaca Impulsionado pelos investimentos em infraestrutura e transparência promovidos pelo primeiro-ministro Narendra Modi, à frente de seu terceiro mandato consecutivo, o país é um dos que cresce mais rapidamente no mundo, com uma expansão de 8,2% em 2023 e 6.5% em 2024. Em 2023, a Índia ultrapassou o Reino Unido e tornou-se a quinta maior economia do mundo. As expectativas são de que, até 2050, ela supere o Japão e a Alemanha, passando a rivalizar com China e Estados Unidos.
Se comparado à superpotência, alguns arriscam, decadente e ao vizinho emergente, a Índia é, hoje, o país mais populoso do planeta, segundo a ONU, com uma juventude que se reproduz velozmente e precisa trabalhar, em contraste com a China, apontada como principal alternativa aos EUA, mas que sofre com um baixo crescimento vegetativo. A mão de obra barata e os incentivos governamentais atraem fábricas e empresas estrangeiras, muitas das quais provenientes de território estadunidense, tornando o protecionismo uma opção lógica na busca por tornar a América grande de novo.
Tarifas indianas deixam Brasília em alerta
Ao anunciar a medida contra a Índia, Trump indicou que outros países que adquirem petróleo da Rússia podem estar sujeitos a tarifas extras de 25%. No mês passado, o político declarou que, caso a Rússia não interrompesse a guerra com a Ucrânia, os Estados Unidos imporiam “tarifas secundárias de 100%” sobre países que continuassem comercializando com Moscou.
A situação causa preocupação em Brasília, uma vez que o agronegócio nacional é extremamente dependente de fertilizantes russos e, assim como o gigante asiático, o Brasil aumentou a compra de combustíveis fósseis russos após o começo do conflito. A situação é particularmente representativa no setor de diesel, em que, nos últimos 3 anos, a Rússia substituiu os EUA como principal fornecedor.
