O laboratório farmacêutico Gilead Sciences apresentou na terça-feira (11) os primeiros dados clínicos de um estudo para dosagem única anual do medicamento lenacapavir para prevenção contra o HIV. A empresa demonstrou os resultados em um congresso que conversa sobre retrovírus e infecções oportunistas, a CROI 2025, e em uma publicação na revista científica The Lancet. O medicamento mostrou ser seguro e eficaz nos testes da Fase 1.
A primeira fase dos testes avaliou a farmacocinética, a segurança e a tolerância de duas formulações de dosagem única, injetável e intramuscular de 5000mg de lenacapavir. O teste incluiu 40 adultos saudáveis com baixo risco de contrair HIV, entre 18 e 55 anos, com índice de massa corporal abaixo ou igual a 35 kg/m2.
A Gilead Sciences produz o antiviral lenacapavir, um medicamento injetável, que já havia apresentado eficácia de mais de 95% na prevenção do HIV com apenas duas doses anuais.
Resultados obtidos nos testes
Os dados da Fase 1 do ensaio clínico mostraram que as duas diferentes formulações de uma dosagem anual de lenacapavir administradas por meio de uma injeção intramuscular obtiveram e mantiveram as concentrações de plasma necessárias para eficácia na prevenção contra o HIV.
As concentrações de plasma do lenacapavir nos participantes permaneceram acima dos 95% de concentração de eficácia por pelo menos 56 semanas para ambas as fórmulas. Além disso, a mediana das concentrações em ambas na Semana 52 foram maiores que aquelas observadas na Semana 26 nos estudos anteriores das dosagens semestrais do medicamento. Os dados do ensaio clínico confirmaram que os resultados obtidos nas duas formulações para doses anuais do medicamento justificam mais estudos.
Segundo Jared Baeten, vice-presidente sênior e chefe da área de Terapêutica Virológica da empresa, a companhia continua a “inovar em seu trabalho para desenvolver opções injetáveis e orais adicionais, de longa duração e centradas no indivíduo, para ajudar as pessoas a fazerem a escolha certa na prevenção contra o HIV”.
Esperança para erradicação da doença
No mesmo dia da divulgação dos resultados do estudo, a diretora-executiva do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), Winnie Byanyima, publicou em seu perfil no X (ex-Twitter) que a inovação do medicamento americano pode reduzir as infecções a quase zero, deixando o mundo mais perto de erradicar a AIDS, uma ameaça à saúde pública mundial.
Em 21 de janeiro deste ano, Winnie disse durante a reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, que “essas novas tecnologias nos dão uma chance real de acabar com a AIDS até 2030.” No entanto, há uma condição para que isso ocorra. “Apenas se empresas farmacêuticas, governos, parcerias internacionais e sociedade civil se unirem em torno da prevenção e tratamento do HIV, poderemos usar todo o potencial desses medicamentos e acabar com a AIDS mais cedo do que imaginávamos”, reforçou Byanyima.
Comunidades científicas
Para efeitos de reconhecimento e validação no meio científico, estudos clínicos e seus resultados devem ser publicados, compartilhados, revisados e apreciados por pares e especialistas do campo de estudo específico.
O CROI 2025 é a 32ª edição da Conference on Retroviruses and Opportunisti Infections (Congresso de Retrovírus e Infecções Oportunistas). O evento acontece entre 9 e 12 de março, em São Francisco, nos Estados Unidos, e é considerado um dos mais relevantes na área de infectologia, principalmente nas conversas sobre assuntos importantes como HIV, Mpox e Covid-19.
The Lancet é uma revista científica voltada para a medicina, publicada semanalmente pela Elsevier, do Lancet Publishing Group, no Reino Unido. É uma das mais prestigiadas revistas médicas por ser um periódico de alto impacto. O público leigo se tornou mais familiar com a revista após a publicação de um artigo com bases científicas falseadas que relacionava o autismo à vacina tríplice viral, o que contribuiu para o surgimento de grupos antivacina. A retratação do artigo só aconteceu doze anos depois.