Os clubes mais ricos do mundo estão contratando e lançando jogadores cada vez mais jovens. Não é por acaso; é uma tendência do mercado de futebol, uma estratégia que as grandes ligas adotaram. E o Brasil pode ficar para trás nesse momento, ele que se posiciona no mercado como vendedor, muitas vezes não mantendo seus jovens atletas, que saem muito cedo para o mercado europeu.
As grandes ligas, como o campeonato espanhol (La Liga), francês (Ligue 1), inglês (Premier League), alemão (Bundesliga) e italiano (Serie A), promovem e incentivam financeiramente seus clubes a formarem cada vez mais os seus jovens atletas e usá-los no futebol profissional.
E, portanto, esses jogadores tendem a ter mais espaços e tempo de jogo. É possível observar nos dados abaixo uma crescente desses atletas, que se tornaram fundamentais para suas equipes.
La Liga à frente na formação de jovens
O campeonato espanhol está à frente nessa nova tendência; eles apostam muito na formação de atletas, não somente comprando de outros países, como faz a Premier League, mas sim formando na sua própria casa. Observamos um grande incentivo e investimento médio por ano na base de clubes da 1ª divisão da Espanha, que fica entre 5 e 12 milhões de euros (R$ 73,3 milhões). Em média, os valores passam dos 20 milhões de euros (R$ 122,3 milhões) ao comparar os dois grandes da liga espanhola, Barcelona e Real Madrid.
Jovens jogadores oriundos das categorias de base dos próprios clubes espanhóis disputaram 19,8% dos minutos da liga na temporada passada; portanto, é a liga com maior percentual de minutos disputados por atletas novos entre as grandes ligas europeias.
Lamine Yamal completou já 100 jogos profissionais e não competiu 19 anos ainda (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Quality Sport Images)
O que mais impressiona é o caso do Barcelona: os jogadores formados em La Masía disputaram 49,3% dos minutos do time na La Liga 2024/25. Esse time, que contava com muitos jogadores jovens e formados em sua base, foi campeão da La Liga na temporada 24/25. Entre outros dados que impressionaram dessa temporada, o Barça tinha a menor média de idade, de 25,4 anos, segundo dados do Observatório do Futebol do CIES, o qual é um centro de pesquisa internacional ligado ao Centro Internacional de Estudos do Esporte, sediado na Suíça.
Outros campeonatos europeus
A Premier League lançou, em 2012, um plano de estratégias chamado Plano de Performance do Jogador de Elite, cujo objetivo era garantir aos clubes mais e melhores jogadores formados em suas bases. Incentivando financeiramente os clubes, os valores poderiam chegar a 3 milhões de libras (R$ 20,8 milhões), ou 30 mil libras por jogo na Premier League, ao se usar um jogador da base do clube. Ao todo, mais de 2,8 bilhões de libras foram investidos desde 2012.
Porém, o plano de rejuvenescimento da Premier League acabou se diferenciando na prática. Os grandes clubes acabaram indo pelo caminho da contratação de muitos jovens, o que acabou não beneficiando o uso da base. Quando analisamos os 20 clubes integrantes da Premier League, somente o Manchester City e o Chelsea deram mais de 15% dos minutos desta temporada para atletas formados em casa. Mesmo com a maior parte do mercado comprando jogadores, vemos estrelas jovens surgirem da base, como o jovem Max Dowman que estreou na Premier League pelo Arsenal aos 16 anos.
O Chelsea é um dos clubes que mais contratam jovens de outras ligas; vemos como exemplo o Estêvão, contratado com 17 anos, podendo só jogar pelo clube quando completasse os 18 anos. Ele, que chegou já com muito destaque, se tornou o jogador mais jovem a marcar um gol pela equipe do Chelsea na Champions League.
Gol do Estêvão pela Champions League, se tornado o jogador mais jovem do Chelsea a marcar na competição (Vídeo: reprodução/YouTube/TNT Sports Brasil)
No Brasil existe uma tendência ainda maior pela venda. Mesmo clubes grandes, como o Palmeiras, que investe em média R$ 30 milhões por ano na base, encontram-se sempre no mercado como vendedor. Claro que esse clube consegue melhores valores pelas vendas, mas seus jovens atletas, quando se destacam, logo têm um grande clube europeu que os compra. E, em território nacional, não há um incentivo claro para a formação e a continuidade desses jovens atletas no próprio mercado brasileiro. Sendo assim, os clubes trabalham individualmente seus planos de base, procurando priorizar a venda desses atletas.
