Advogados de Bolsonaro criticam decisão do STF e apontam excesso em pena de 27 anos

Após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, na data de ontem, quinta-feira (11), com punição de 27 anos e 3 meses de prisão imposta pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) no processo da chamada Trama Golpista, a defesa declarou que recebeu com “respeito”, mas também com “profunda discordância e indignação”, a condenação imposta. 

Em nota conjunta, os advogados Celso Vilardi e Paulo Amador da Cunha Bueno afirmam que a decisão é “excessiva“, “desproporcional”, e que o ex-presidente jamais atentou contra o Estado Democrático de Direito nem participou dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

Contestação da defesa

Um dos pontos centrais levantados pela defesa é o alegado cerceamento do amplo direito em se defender das acusações. Os advogados sustentam que não dispuseram de tempo hábil para examinar todas as provas, e que parte do material foi disponibilizado de forma tardia ou fracionada. O que, segundo eles, teria prejudicado a análise adequada da acusação. 

Em suas declarações, Vilardi e Bueno também criticaram que só mostraram elementos já selecionados pela acusação, sem haver um acesso amplo e sem restrições aos autos. Questionam, ainda, a competência do julgamento, alegando que o processo deveria ter sido conduzido em primeira instância ou julgado pelo plenário do STF, composto por 11 ministros. 


Publicação sobre a contestação dos advogados de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (Foto: reprodução/X/@fabiowoficial)

Para os advogados, o tamanho e a gravidade do caso demandava uma instância mais ampla, para garantir o chamado “juiz natural” e “respeito à proporcionalidade institucional”, por envolver um ex-presidente, ao invés de ser decidido pela Primeira Turma, composta por apenas cinco ministros.

Outro argumento importante refere-se à validade da delação premiada de Mauro Cid. A defesa afirma que há vícios no acordo, como contradições nos depoimentos, que enfraquecem o valor comprobatório dessa peça fundamental para a acusação.

Além disso, Vilardi e Bueno contestaram as provas apresentadas. Para a defesa, discursos, reuniões e mensagens configuram atos preparatórios, que, no entender deles, não justificariam a condenação por crimes como tentativa de golpe de Estado ou abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Desproporcionalidade penal

Em relação à pena imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro, de 27 anos e 3 meses, inicialmente em regime fechado, para os advogados, é um montante “absurdamente excessivo e desproporcional”. Afirmam que, após a publicação da decisão, o chamado acórdão, recorrerão da decisão em todas as instâncias possíveis, inclusive internacionalmente.


Publicação do STF sobre as penas impostas aos condenados pela chamada Trama Golpista (Foto: reprodução/X/@STF_oficial)

Vilardi e Bueno sustentam que não houve interrupção do exercício dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e nem restrição às liberdades democráticas no período investigado, que resultou na condenação do ex-presidente. A defesa reafirma que Bolsonaro não participou de qualquer plano de golpe, não ordenou ou incentivou os atos violentos, embora reconheçam o direito de crítica política e manifestações divergentes.

STF estabelece penas para os réus da trama golpista

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) definiu nesta quinta-feira (11), as condenações dos réus envolvidos na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. O ex-presidente Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão em regime fechado, acusado de organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

O voto decisivo foi da ministra Cármen Lúcia, que acompanhou o relator Alexandre de Moraes e o ministro Flávio Dino, garantindo a maioria condenatória. Sete aliados de Bolsonaro também foram condenados, com penas que variam conforme o grau de participação nos atos, incluindo regime aberto para aqueles que colaboraram com as investigações.

Perfis dos acusados e suas condenações


Diversos ex-ministros e autoridades militares receberam condenações pelo envolvimento na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. Entre eles, o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), foi condenado a 21 anos de prisão em regime fechado por sua participação estratégica na organização dos atos. Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, recebeu 26 anos de prisão, enquanto Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, foi condenado a 24 anos, ambos considerados peças-chave na articulação e no apoio logístico das ações.

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, recebeu também 24 anos, por omissão e conivência com os ataques. Outros condenados incluem Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, com 19 anos de pena, também por omissão; Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, que recebeu 2 anos em regime aberto por colaborar com as investigações; e Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), condenado a 16 anos e 1 mês, responsável por fornecer apoio estratégico e informações que facilitaram os atos golpistas.

As sentenças refletem a gravidade da participação de cada um, levando em conta o papel e a influência que exerceram na organização dos ataques.


O ministro Alexandre de Moraes destacou a situação dos condenados militares (Vídeo: reprodução/instagram/@portalg1)


Os acusados podem recorrer a decisão do STF

Os réus condenados pela tentativa de golpe de Estado têm o direito de recorrer da decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Esse recurso pode ser apresentado ao próprio STF, solicitando a revisão das condenações ou das penas aplicadas, ou ainda ser levado a instâncias superiores, como o plenário da Corte, dependendo do caso.

O objetivo é garantir que cada acusado tenha a oportunidade de contestar a decisão e apresentar argumentos que possam reduzir ou modificar sua pena.

O processo de recurso é previsto na legislação brasileira como parte do direito à ampla defesa. Durante essa etapa, a defesa dos acusados pode apresentar novas provas, questionar pontos do julgamento ou argumentar sobre a interpretação da lei aplicada. Mesmo com a possibilidade de recorrer, as condenações já determinadas permanecem válidas até que uma decisão judicial em instância superior possa alterá-las, mantendo a efetividade das penas enquanto o processo segue em análise.

Voto de Zanin no STF amplia maioria pelo reconhecimento de organização criminosa

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Zanin reconhece organização criminosa envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus no julgamento da suposta trama golpista.

Além disso, com seu voto nesta quinta-feira (11), a Corte já formou maioria para condenar os acusados pelos crimes denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Vale destacar que o posicionamento de Zanin evidencia a organização e a intenção dos réus. Zanin foi o último a se manifestar e destacou que:

Os investigados constituíram uma organização estável, com duração superior a um ano, cujo planejamento, descrito em documentos apreendidos, previa ações coordenadas para manter Bolsonaro no poder à revelia da vontade popular”.

Por isso, segundo o ministro, houve uma tentativa deliberada de ruptura do Estado Democrático de Direito, com articulação para o uso das Forças Armadas.

Placar do julgamento e votos

Os ministros Alexandre de Moraes, relator do caso, Flávio Dino e Cármen Lúcia acompanharam o relator e votaram pela condenação integral dos réus. Com o voto de Zanin, a maioria ficou em quatro votos a um.

O ministro Luiz Fux divergiu parcialmente. Ele defendeu a absolvição de Bolsonaro e de outros cinco acusados, mas votou pela condenação de Mauro Cid e Braga Netto pelo crime de abolição do Estado Democrático de Direito. Com isso, o placar final foi consolidado e a dosimetria passou a ser a etapa seguinte para definir as penas de cada réu.

Próximos passos após Zanin reconhecer organização criminosa no STF

O julgamento, iniciado em 2 de setembro, já foi concluído. Em seguida, iniciou-se a fase de dosimetria, na qual os magistrados definem o tempo de pena de cada réu. O cálculo ocorre em três etapas: primeiro, os magistrados fixam a pena-base. Depois, avaliam circunstâncias que podem agravar ou atenuar a condenação. Por fim, aplicam causas que aumentam ou diminuem a pena.


Veja o momento em que Zanin reconhece organização criminosa e vota contra Bolsonaro (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)

Importância do voto de Zanin

Com seu voto, Zanin reconhece organização criminosa e fortalece a decisão final do STF, contribuindo para a definição das penas dos réus. Além disso, o ministro reforça o papel das cortes superiores na preservação do Estado Democrático de Direito e na aplicação de decisões firmes diante de ameaças às instituições.

O voto de Zanin também estabelece um marco no julgamento, servindo como referência para casos futuros relacionados a violações das instituições democráticas e fortalecendo a confiança no sistema judicial.

STF condena Mauro Cid a dois anos em regime aberto com benefício

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu nesta quinta-feira (11) condenar Mauro Cid a dois anos de prisão em regime aberto. A princípio, o benefício resulta do acordo de delação premiada firmado pelo tenente-coronel com a Polícia Federal.

Anteriormente, Cid pedia, como prioridade, o perdão judicial. Entretanto, os ministros rejeitaram a proposta por considerarem a medida inconstitucional em casos de golpe de Estado.

Divergência entre ministros e a PGR

O acordo, assinado em agosto de 2023, oferecia benefícios como pena reduzida ou perdão judicial. Porém, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que Cid omitiu fatos e se contradisse em seus depoimentos. Por isso, ele sugeriu limitar o benefício apenas à redução mínima da pena.


Mauro Cid é condenado (Vídeo: reprodução/YouTube/Metrópoles)

Mesmo com ressalvas, a Primeira Turma validou a colaboração. O ministro Alexandre de Moraes destacou que ninguém pode perdoar crimes ligados a golpe de Estado. Já Flávio Dino afirmou que Cid colaborou de forma significativa e trouxe elementos que esclareceram pontos decisivos do processo.

Defesa de Bolsonaro tenta anular acordo

O nome de Mauro Cid permanece central no julgamento da trama golpista. Em junho, a defesa de Jair Bolsonaro pediu ao Supremo a anulação do acordo. O argumento foi baseado em reportagens que apontavam supostas revelações de Cid em perfis de redes sociais.

Por outro lado, advogados de Bolsonaro também atacaram a credibilidade do militar. Para Celso Vilardi, Cid mentiu diversas vezes, o que o tornaria “um homem não confiável”. A estratégia buscava enfraquecer a utilidade da delação.

Voto final e decisão da Corte

Luiz Fux deu o voto final, consolidou a condenação e manteve a validade da colaboração. Ele reconheceu que Cid participou dos preparativos para prender Alexandre de Moraes, mas absolveu o militar dos crimes ligados à violência e à invasão do Planalto. Assim, Mauro Cid recebeu pena reduzida, mas não escapou de condenação. O julgamento reforça a posição do STF de punir envolvidos na tentativa de golpe de janeiro de 2023, ainda que colaborem com as investigações.

Trump se manifesta após condenação de Bolsonaro

Donald Trump se pronunciou nesta quinta-feira (11) sobre o julgamento e a condenação do ex-presidente, apontado como líder da trama golpista.

O presidente americano já havia esboçado sua opinião sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e classificou o episódio como uma “caça às bruxas”, criticando duramente o Judiciário brasileiro.

Entenda as acusações contra Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro responderá por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

Esse julgamento decorre da conspiração e dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Segundo as investigações, o plano foi arquitetado por Bolsonaro e aliados do governo. Na ocasião, extremistas bolsonaristas invadiram, depredaram e vandalizaram prédios públicos na capital federal, símbolos da democracia brasileira.


O fim dos votos e a consumação da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)

Paralelo entre os ataques ao Capitólio e a Brasília

A relação entre os dois presidentes tem pontos em comum: governos que propagam fake news, adotam tom agressivo e extremista em seus discursos e questionam o sistema eleitoral democrático.Em 2021, Donald Trump reagiu com indignação e descontentamento à derrota para o democrata Joe Biden e acusou o processo eleitoral de fraude. Após essas declarações, seus apoiadores romperam o bloqueio em Washington no dia da posse do presidente eleito. O ato, considerado uma tentativa de golpe, resultou em vandalismo, depredação de patrimônio público, cinco mortes e inúmeras prisões. A investigação contra Trump, no entanto, foi arquivada.

No Brasil, o mesmo modus operandi se repetiu em Brasília após a derrota de Jair Bolsonaro, com algumas diferenças: acampamentos improvisados em áreas públicas, acesso facilitado aos prédios dos Três Poderes e ampla depredação. O desfecho, porém, foi distinto os responsáveis foram julgados e condenados por seus crimes.

O deputado federal e filho de Jair Bolsonaro, em entrevista à Reuters, afirmou que espera que o governo americano aplique mais sanções ao governo brasileiro e que os ministros do STF que votaram a favor da condenação sofram sanções sob a Lei Magnitsky, aplicada anteriormente ao ministro Alexandre de Moraes.

STF forma maioria para condenar Bolsonaro; base festeja e oposição mira anistia

O voto da ministra Cármen Lúcia consolidou, nesta quinta-feira (11), a maioria da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal a favor da condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de outros sete acusados por tentativa de golpe de Estado. A decisão repercutiu de forma imediata no meio político.

Enquanto parlamentares governistas classificaram o julgamento como um marco para a democracia, integrantes da oposição criticaram duramente a construção do processo e reforçaram a defesa de uma anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

Governistas exaltam decisão do Supremo

Para o líder do PT na câmara, Lindbergh Farias (RJ), o resultado representa um “dia histórico” e recado firme contra retrocessos democráticos. Ele elogiou a consciência do voto de Cármen Lúcia e disse que qualquer tentativa de anistia deve ser rejeitada.


William Bonner anuncia decisão do STF pela condenação de Bolsonaro (Vídeo: reprodução/X/@choquei)

O deputado Rogério Correia (PT-MG) também acompanhou a sessão e avaliou que o julgamento tende a terminar em “4 a 1“. Segundo ele, a aplicação imediata das penas seria essencial para reafirmar o compromisso institucional do país.

Oposição promete reagir com projeto de anistia

Do lado oposto, o líder do PL na câmara, Zucco (RS), afirmou que o resultado já era previsível e acusou Cármen Lúcia e Alexandre de Morais de atuarem mais como acusadores do que como julgadores. Ele reforçou que a bancada da oposição trabalhará por uma anistia “ampla, geral e irrestrita

O deputado Evair de Melo (PL-ES) seguiu a mesma linha e classificou o voto de Cámen Lúcia como “desdenhoso“, além de afirmar que a ministra aparentava “cansaço” durante a leitura. Apesar do revés do Supremo, oposicionistas dizem acreditar que a decisão fortalecerá o campo político de Bolsonaro.

Cenário Político segue polarizado

Com a maioria já formada, o resultado do julgamento é aguardado apenas como formalidade. O caso, no entanto, já reverbera no Congresso, onde governistas pressionam contra qualquer projeto de anistia, enquanto a oposição promete não recuar.

Para analistas políticos, a decisão do Supremo reforça o embate entre Judiciário e oposição ao mesmo tempo, em que pode dificultar a estratégia de Bolsonaro de manter influência sobre sua base. A disputa em torno da anistia deve dominar o debate nos próximos meses e servir como novo teste de força entre governo e oposição no Legislativo.

Bolsonaro é condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe e crimes vinculados

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou nesta quinta-feira (11) o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por participação em uma trama golpista após as eleições de 2022. A maioria foi formada pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, enquanto Luiz Fux votou pela absolvição.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República apontou cinco crimes: tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.  A decisão é considerada um marco histórico no enfrentamento a ataques contra a democracia no Brasil, estabelecendo parâmetros inéditos para responsabilização de autoridades de alto escalão.

Provas e contexto político pesam na decisão do STF

Durante o julgamento, os ministros destacaram elementos que reforçaram a acusação contra Bolsonaro. Entre eles, estão as transmissões ao vivo em que o ex-presidente questionava o resultado das eleições sem apresentar provas, a minuta de decreto encontrada na casa de um ex-assessor e mensagens trocadas com militares que sugeriam a possibilidade de intervenção.


Ex-presidente sofre condenação por envolvimento em plano de golpe (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)

Para o relator, Alexandre de Moraes, tais ações configuraram uma estratégia organizada para tentar deslegitimar o processo eleitoral e abrir caminho para um golpe de Estado. Além disso, a Procuradoria-Geral da República ressaltou que os atos de 8 de janeiro de 2023 não foram isolados, mas consequência direta desse ambiente de incitação.

Os ministros também avaliaram que a participação de Bolsonaro em reuniões com aliados, nas quais se discutia a manutenção do poder mesmo após a derrota, reforçou a gravidade das condutas. Esses elementos foram decisivos para consolidar a pena aplicada.

Voto de Fux provoca ironias e incertezas no STF sobre a trama golpista

Antes da retomada da sessão desta quinta-feira (11), ministros do Supremo ironizaram o voto do magistrado Luiz Fux. O ministro havia apontado cerceamento de defesa no julgamento da trama golpista envolvendo Jair Bolsonaro e outros réus.

Anteriormente, Fux aceitou a tese das defesas sobre o chamado document dump. Ele afirmou que a entrega tardia de provas em grande volume prejudicou os advogados dos réus.

Bastidores expõem contradições


Voto de Fux gera comentários (Vídeo: reprodução/YouTube/UOL)

Nos bastidores, ministros lembraram que o próprio voto de Fux utilizou trechos detalhados do inquérito. “Fux analisou no detalhe o material com sua equipe. As defesas não conseguiram”, ironizou um integrante da Suprema Corte. Similarmente, outro ministro reforçou: “Quem quis, teve acesso às provas.”

Apesar da divergência, o julgamento já alcançou maioria de 3 a 1 pela condenação de Bolsonaro e de outros sete réus. Desse modo, eles respondem por golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa, além de crimes contra o patrimônio público.

Divergências de Fux geram novos impasses

O ministro também já havia demonstrado desconfiança em relação à delação de Mauro Cid. Fux avaliou a colaboração com cautela, mas votou pela manutenção da validade dos depoimentos, surpreendendo aliados de Bolsonaro. Logo, essa decisão reforçou a maioria formada no Supremo.


Celso Vilardi, advogado de Jair Bolsonaro (Foto: reprodução/PABLO PORCIUNCULA/AFP/Getty Images Embed)


Ainda assim, Fux declarou, na manhã de quarta-feira (10), que o Supremo Tribunal Federal não teria competência para julgar o caso. Segundo ele, os réus não possuem foro privilegiado, o que exigiria outra instância. Consequentemente, a posição soou contraditória, já que o mesmo ministro havia aceitado a denúncia meses antes.

Aliados de Bolsonaro destacaram semelhanças entre a tese de Fux e os argumentos da defesa. O advogado Paulo Cunha Bueno já havia defendido, em 2024, que o ex-presidente não integraria a suposta junta militar. Agora, a Corte enfrenta um impasse. Assim, cabe decidir se Fux participará da fase que definirá as penas dos condenados. A divergência abre um debate sobre metodologia de cálculo, tema que já gerou conflitos no julgamento do mensalão.

Luiz Fux se contradiz em voto sobre Bolsonaro

No julgamento do STF realizado nessa quarta-feira (10), o ministro Luiz Fux firmou que os ataques de 8 de janeiro representaram uma ameaça grave ao Estado democrático de direio. Contudo, dua postura ambígua sobre a punição de Bolsonaro gerou polêmica. Fux destacou que “não há anistia legal para crimes graves contra a democracia”, mas também reforçou a necessidade de cautela na aplicação de medidas, abrindo espaço para diferentes intepretações sobre a gravidade dos atos.

Segundo Fux, “todos os envolvidos nos ataques devem responder pelos atos, mas as medida cautelares precisam respeitar os limites formais e temporais da lei”. Ele ainda descreveu os eventos ocorridos “entre golpes de Estados e a aboliçãodo Estado democrático”, abrindo caminho para o debate sobre duas teses jurídicas e políticas:

  1. O Golpe absorve a abolição: netsa perspectiva, os atos de 8 de janeiro seriam um golpe planejado que, se bem-sucedido, levariam automaticamente à abolição da democracia. Ou seja, o ataque ao sistema institucional é o motor que desencadeia a destruição do Estado democrático.
  2. A abolição absorve o golpe: nesta tese, a ameaça maior é a própria abolição do Estado democrático. O golpe de Estado, nesse caso, seria apenas uma das formas de expresar essa tentativa de eliminação do regime democrático, funcionando como sintoma de uma crise mais ampla e estrutural.

Gravidade dos atos x cautela processual

Fuxafirmou que os ataques “representam um risco direto à ordem democrática do país e podem ser interpretados como tentativas de golpes de Estado”. Ao mesmo emSpo, ele ponderou que prisões imediatas não eram obrigatórias e que o processo deveria seguir etapas formais, gerando críticas sobre a coerência de seu voto.


Foto: Luiz Fux se contradiz em seu voto (reprodução/X/@g1)

Segundo o ministro “Decisões extremas podem aumentar ainda mais a polarização na sociedade portanto é necessário equeilibrar firmeza e prudência”. Para analistas, isso demonstra o desafio de combinar responsanilização clara e cautela processual diante de atos que podem levar tanto ao golpe quanto à abolição da democracia

Limites da lei e brechas processuais

Apesar de afirmar que “não há anistiaegal para crimes graves contra a democracia” Fux também reconheceu que a desefa poderia questionar aspectos formais do proceso, incluindo prazos e medidadas cautelares. Para especialistas, isso abriu margem para interpretações que poderiam reduzir a punição de Bolsonaro, gerando dúvidas sobre a consistência do voto.

A decisão do STF manteve a condenação, mas a postura de Fux ilustra a tensão entre responsabilizar os autores os ataques e lidar com a complexidade de um cenário em que golpes e abolição do Estado democrático se sobrepõem.SS

Bolsonaro passará por cirurgia depois do fim do julgamento no STF

No próximo domingo, dia 14 de setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro passará por uma cirurgia. Bolsonaro está preso em domicílio, com tornozeleira eletrônica. Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, autorizou a ida ao procedimento nesta quarta-feira, dia 10 de setembro; e Bolsonaro será acompanhado por uma escolta. 

A cirurgia de Bolsonaro

Jair Bolsonaro fará uma cirurgia eletiva: o ex-presidente removerá lesões de pele. Uma delas é benigna – isto é, não apresenta risco de câncer de pele –; enquanto outra será removida e enviada para análise. Ele será acompanhado por familiares: a esposa Michelle Bolsonaro, que foi a primeira-dama brasileira entre 2019 e 2022 – e o filho Carlos Bolsonaro, vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo PL-RJ. 

A cirurgia será simples, e Bolsonaro irá ser liberado no mesmo dia. Como informado no relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal, a cirurgia será feita em regime ambulatorial – ou seja, não precisa de internação –, em um hospital particular na capital do Brasil (Brasília). O médico responsável pelo procedimento é Claudio Birolini, o mesmo profissional que fez a cirurgia de intestino de Jair Bolsonaro, em abril. 

Bolsonaro será acompanhado de uma escolta para ir ao hospital

Para autorizar a cirurgia, o ministro do Superior Tribunal Federal – e relator do processo e do julgamento de Bolsonaro –, Alexandre de Moraes, solicitou que uma escolta acompanhasse o ex-presidente Jair Bolsonaro. Como Bolsonaro está em prisão domiciliar e usando tornozeleira eletrônica, a saída para a cirurgia será acompanhada pela escolta da Polícia Penal e por três seguranças do Gabinete de Segurança Institucional. 


Bolsonaro na frente de sua casa (Foto: reprodução/Sergio Lima – AFP/Getty Images Embed)


O ministro do Superior Tribunal Federal Alexandre de Moraes, em resposta ao pedido de liberação para a cirurgia, também fez questão de relembrar certas circunstâncias que o ex-presidente Jair Bolsonaro deve seguir. Bolsonaro deverá utilizar a tornozeleira eletrônica a todo momento, não pode fazer contato com nenhuma outra pessoa que está sendo investigada no processo da trama golpista e não poderá utilizar as redes sociais. Essas medidas são medidas cautelares, impostas por Moraes no pedido de prisão domiciliar. 

Depois da cirurgia, a defesa de Bolsonaro deverá apresentar um relatório e um atestado de entrada e saída do hospital; a defesa terá 48 horas para enviar o documento ao STF. Jair Bolsonaro foi condenado nesta quinta-feira, dia 11 de setembro, em todas as acusações pela trama golpista; o julgamento ainda está em andamento, e está previsto para terminar sexta-feira, dia 12 de setembro.