Mais de 90 pessoas morreram em um naufrágio na costa norte da ilha de Moçambique, na província de Nampula, neste domingo (07). De acordo com autoridades locais, um barco de pesca foi utilizado como balsa e transportava cerca de 130 passageiros, superlotando a navegação. Os passageiros tentavam chegar à ilha para escapar da ameaça do cólera, que já chegou a 15 mil casos registrados na cidade de Nampula desde outubro do ano passado.
Naufrágio nas águas de Moçambique
De acordo com Jaime Neto, secretário de Estado de Nampula, o barco estava superlotado e não era adequado para o transporte de passageiros e por isso, acabou afundando. Mais de 90 pessoas perderam a vida neste acidente e dentre as fatalidades, estão várias crianças.
O secretário informou que foram encontrados cinco sobreviventes e que apesar das condições do mar, que dificultam as buscas, irão continuar a procurar por mais sobreviventes. “A maioria dos passageiros viajou para a ilha devido ao pânico causado pela desinformação sobre um surto de cólera”, declarou Neto.
A ilha de Moçambique foi a escolhida como o refúgio dos passageiros que morreram no naufrágio (Foto: reprodução/Oliver Strewe/Getty Images Embed)
Moçambique é um dos países mais pobres da África oriental e a cidade de Nampula, localizada na província de mesmo nome, teve cerca de 15 mil casos de cólera confirmados e 32 mortes. A doença é transmitida por uma bactéria, que contamina água e alimentos. Nampula é uma das áreas mais afetadas, registrando um terço dos casos. As autoridades locais informam que uma equipe de investigadores trabalha para determinar as causas do naufrágio.
Surto de cólera no país
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou em janeiro deste ano que houve um aumento “grave dos casos de cólera” em dez países da região oriental e austral do continente, alertando para o risco de uma epidemia em Moçambique.
Segundo dados do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, no período de um ano, de janeiro de 2023 a janeiro de 2024, foram cerca de 253 mil casos de cólera registrados e quase 4.200 mortes nos 19 estados membros da União Africana. Tais números revelam a estatística avassaladora de 72,5% de infecção no sul do continente.
O atual surto de cólera pede uma resposta rápida e de grandes dimensões. De acordo com os mestres de saúde pública, uma das maiores armas mais eficazes para combater o cólera é educar a população sobre os riscos da doença e as medidas de prevenção. Agentes comunitários têm se esforçado para transmitir informação à população local, ajudando as pessoas a se protegerem da doença.
As autoridades se esforçam para conter o surto de cólera que atinge o continente (Foto: reprodução/Yasuyoshi Chiba/Getty Images Embed)
Mouzinho Augusto, juntamente com outros voluntários do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, leva a importante mensagem e ensina as boas práticas de prevenção, como a constante lavagem das mãos em Cabo Delgado, uma província no extremo nordeste de Moçambique. Ele ensina que é importante lavar as mãos sempre, utilizando água, sabão ou até mesmo cinzas.
O Ministério da Saúde do país contava com poucos profissionais da saúde para responder à demanda no início do surto, pois a dimensão da doença pegou a todos de surpresa, segundo Benjamim Mwangombe, coordenador médico do Médico Sem Fronteiras em Moçambique. Mas com a ajuda de outras instituições internacionais, como a Unicef e a OMS, mais equipes de saúde foram disponibilizadas para atender à população. Mwangombe diz que já conseguem ver uma queda nos casos de cólera, graças à campanhas de vacinação, e que o mais importante é manter o controle da mortalidade e manter o foco na prevenção da doença.