Pesquisadores da Universidade de Stanford conduziram estudo que mostra resultados eficazes em tratamento de doenças mentais e traumatismo cranioencefálico em combatentes veternaos. A droga alucinógena usada, a ibogaína, mostrou-se eficaz em tratar as sequelas decorrentes destes traumas.
O estudo da ibogaína
O estudo foi publicado pela Nature Magazine nesta última sexta (05) e incluiu vários acadêmicos da renomada Universidade de Stanford, dentre eles doutores em Medicina, Psicologia e Neurociência.
Traumatismos cranioencefálicos são lesões resultantes de impacto ou explosão e podem proceder a várias sequelas, incluindo limitações funcionais e síndromes psiquiátricas, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. Combatentes possuem risco elevado de sofrerem tais complicações, mas a eficácia dos tratamentos é limitada. Nos Estados Unidos, 20% dos suicídios na população são de veteranos.
A droga usada no estudo é a ibogaína. Oriunda do arbusto iboga e natural do centro-oeste africano, a planta é tradicionalmente usada há séculos em rituais religiosos, espirituais e de cura. Doses terapêuticas da substância levam o usuário a estado onírico, que facilita períodos mais longos de autorreflexão.
Fruto da África Ocidental pode ser a esperança de tratamento para sequelas psiquiátricas (Foto: reprodução/ Nationalgeographic)
Como a ibogaína é considerada uma substância ilegal nos Estados Unidos, os estudos foram conduzidos com ajuda de voluntários no México. Os pesquisadores selecionaram 30 veteranos de operações especiais que sofriam com condições ao trauma cranioencefálico, como transtornos de ansiedade, pensamentos suicidas e alcoolismo.
Resultados encorajadores
De acordo com Nolan William, professor associado de psiquiatria e ciências comportamentais e coautor do estudo, os resultados impressionam e encorajam mais estudos do composto psicodélico. “Nenhuma outra droga foi capaz de aliviar os sintomas funcionais e neuropsiquiátricos do trauma cranioencefálico”, diz o pesquisador.
Pesquisas anteriores já haviam revelado que este composto poderia ser usado como um agente protetivo para reduzir ou prevenir danos neurológicos. A pontuação média no Cronograma 2.0 de Avaliação de Incapacidade da Organização Mundial de Saúde (WHODAS-2) – ferramenta que avalia o nível de funcionalidade de indivíduos com história de acidente vascular cerebral – foi superior a 30, indicando deficiência de ligeira a moderada.
Após o tratamento, os sintomas melhoraram de forma significativa e rápida. A pontuação média do WHODAS 2.0 caiu para 20, indicando incapacidade limítrofe a leve, e a função executiva e a velocidade de processamento cognitiva dos veteranos melhorou bastante. Cerca de um mês depois do tratamento, essa pontuação caiu para 5,1, indicando ausência de incapacidade. Os sintomas de depressão e ansiedade tiveram redução média em mais de 80%.
Muitos veteranos são vítimas de ansiedade e outras complicações relacionadas ao trauma cranioencefálico (Foto: reprodução/Pixabay)
Os pesquisadores querem aprender mais sobre a ibogaína e os riscos associados ao seu uso. O estudo fornece resultados iniciais animadores para a população militar que sofre com estas complicações. Os resultados sugerem que essa terapia também pode ser benéfica em outras populações que sofrem com sintomas dos transtornos psiquiátricos associados a traumas cranioencefálicos.
Assim como nos Estados Unidos, o uso da ibogaína não é liberado no Brasil. Mas a Anvisa permite a importação da substância para alguns tratamentos, sendo um deles a dependência de opiáceos.
Foto destaque: população veterana é uma das maiores vítimas de traumas cranioencefálicos (Reprodução/Pixabay)