PGR conclui as alegações na investigação contra Bolsonaro na suposta trama golpista

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, formaliza nesta segunda-feira o parecer final que investiga o suposto golpe de Estado articulado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Nesta fase do inquérito, será definido se os réus serão condenados ou absolvidos das acusações às quais estão sendo submetidos.

Os réus apresentam suas defesas


A Procuradoria-Geral da República (PGR) apresenta suas alegações finais nesta segunda-feira (14). O primeiro a se manifestar será o tenente-coronel Mauro Cid, com prioridade por firmar acordo de delação premiada. Após sua manifestação, abre-se o prazo de 15 dias para que os demais réus apresentem suas alegações finais no processo que apura a suposta tentativa de golpe de Estado.


Ministro Alexandre de Moraes (Foto: reprodução/Anadolu/Getty Images Embed)


Alexandre de Moraes, que é relator do STF neste caso, iniciou a contagem do prazo em 27 de junho, e o PGR utilizou esse período para articular seu posicionamento. Mesmo com o Poder Judiciário com recesso em julho, nada impactou os prazos processuais. Inclusive, um dos investigados, o ex-ministro Walter Braga Netto, está preso, preventivamente.
São réus nessa investigação, o ex-presidente Jair Bolsonaro; o tenente-coronel Mauro Cid; o ex-ministro Walter Braga Netto; o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ); o ex-comandante da Marinha Almir Garnier; e os ex-ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Anderson Torres (Justiça) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa).

A Procuradoria-Geral da República (PGR) confere aos réus a participação de um “núcleo crucial” da suposta organização criminosa que tentou promover um golpe de Estado. Além deles, outras 23 pessoas são investigadas por participação em três núcleos distintos e respondem a ações penais separadas no Supremo Tribunal Federal (STF).

Alegações finais para o julgamento

O relator da ação, o ministro Alexandre de Moraes, após conclusão das alegações finais vai elaborar seu voto e liberar o processo para julgamento na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), no colegiado responsável pelo julgamento estão os ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia que decidirão com base nos fatos e provas reunidos, pela absolvição ou condenação dos acusados.


A previsão do STF é que o julgamento se realize em setembro, quando os requisitos legais já devem estar cumpridos para a apreciação, segundo integrantes da Corte e da própria PGR.

Lula critica Trump e acusa Bolsonaro de articular ingerência estrangeira

Em discurso nesta sexta-feira (11), durante um evento em Linhares–ES, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou as recentes falas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acusou o governo brasileiro de promover uma “caça às bruxas” por meio do Judiciário. As declarações de Trump, que defendeu o aliado Jair Bolsonaro, foram recebidas com forte crítica por Lula, que classificou o episódio como uma tentativa de interferência estrangeira na soberania do país.

O evento, que reuniu ministros e apoiadores do governo federal, também teve como pauta principal a apresentação de um novo acordo de indenização para as vítimas do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, ocorrido em 2015. Ainda assim, foi o cenário político internacional que dominou o tom do discurso do presidente.

Críticas diretas a Trump e Bolsonaro

Lula afirmou que as ameaças de taxação feitas por Trump têm como objetivo pressionar o governo brasileiro a anistiar envolvidos na tentativa de golpe de Estado ocorrida em janeiro de 2022. Ele acusou Jair Bolsonaro de enviar o filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), aos Estados Unidos para solicitar apoio direto a Trump em defesa do ex-presidente.

“Aquela coisa covarde, que preparou um golpe nesse país, não teve coragem de fazer, está sendo processado, vai ser julgado… E ele mandou o filho dele para os Estados Unidos pedir para o Trump fazer ameaça: ‘Ah, se não liberarem o Bolsonaro, eu vou taxar vocês’”, declarou Lula. Em tom crítico, acrescentou: “É preciso essa gente criar vergonha na cara”.

Segundo Lula, a carta enviada por Trump ao governo brasileiro contém alegações incorretas, como o suposto déficit comercial dos EUA com o Brasil, contrariando dados oficiais que apontam o contrário.

Soberania e Estado de Direito

Em entrevista ao Jornal Nacional, Lula reforçou que “não pode admitir a ingerência de um país na soberania de outro”. Ele destacou ainda que a tentativa de influenciar o sistema judiciário brasileiro por meio de ameaças econômicas representa uma grave afronta ao Estado de Direito.


Presidente Lula critica Trump em entrevista (Vídeo: reprodução/X/@LulaOficial)


A crise diplomática, ainda em seus primeiros desdobramentos, reacende o debate sobre os limites da atuação internacional na política interna de outros países. Lula, ao criticar Trump e Bolsonaro, se posiciona em defesa da autonomia das instituições brasileiras e do processo legal que envolve os acusados pela tentativa de golpe.

Gonet conclui parecer e deve pedir condenação de Bolsonaro e aliados 

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, deverá encaminhar à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) até a próxima segunda-feira (14), data limite, parecer decisivo em relação à ação penal 2668, que julga o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 30 réus. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, e outros quatro ministros terão até setembro deste ano (2025) para concluir o caso.

Decisão de Gonet 

Nos bastidores, os advogados dos réus acreditam que o parecer da Procuradoria Geral da República (PGR) será rigoroso. Mesmo após a decisão do presidente estadunidense, Donald Trump, em taxar os produtos brasileiros importados pelos EUA em 50%, como forma de pressionar autoridades do Brasil, inclusive, pela ampla anistia dos julgados nos atos antidemocráticos de 08 de janeiro de 2023, entende-se que Gonet seguirá o rito processual, com base nas provas colhidas até o momento, solicitando a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A pressão pela anistia dos réus tem se intensificado ao longo dos últimos dias. O ex-presidente Jair Bolsonaro, seus filhos Eduardo e Flávio, além de aliados e parlamentares, tem realizado diversas publicações em suas redes sociais alegando perseguição política. Com o apoio do presidente dos EUA Donald Trump uma “guerra de narrativas”, contra e a favor do ex-presidente, fortalece a polarização política no Brasil.


Publicação do ex-presidente Jair Bolsonaro, sobre o apoio recebido do presidente estadunidense Donald Trump (Foto: reprodução/X/@jairbolsonaro)

No entanto, além de Bolsonaro, outros sete réus considerados parte integrante do “núcleo 1” ou “núcleo crucial” da ação podem ser condenados pelos crimes de golpe de Estado, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, deterioração de patrimônio tombado, grave ameaça contra o patrimônio da União, além de organização criminosa armada. Ao todo, neste processo, 30 pessoas estão sentadas no banco dos réus.

Condenação

A defesa dos réus entende que Paulo Gonet apresentará, em seu parecer, uma pena alta a ser cumprida por Bolsonaro. Levando em consideração que as denúncias oferecidas pela PGR apontam o ex-presidente como líder do que eles chamam de “atos golpistas”, o pedido de Gonet optará por uma pena entre 20 a 30 anos, inicialmente em regime fechado. A percepção dos advogados baseia-se em outras penas aplicadas pelo STF até o momento a outros réus condenados, os quais não tiveram papel crucial na ação.


Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, em depoimento no STF em 09 de junho de 2025 (Fotos: reprodução/Arthur Menescal/Bloomberg/Getty Images Embed)


A decisão de Paulo Gonet, será conhecida na íntegra nos próximos dias e leva em consideração não só as provas iniciais, mas também os depoimentos colhidos ao longo do julgamento. Tanto os depoimentos das testemunhas de defesa quanto das testemunhas de acusação foram essenciais para a elucidação do caso, conforme informou a PGR. Indicando que a pressão do presidente Donald Trump, feita nos últimos dias, não será levada em conta pelas autoridades brasileiras julgadoras da ação penal 2668.

Tarifa de 50% de Trump ao Brasil choca EUA e vira manchete internacional

Uma decisão surpreendente do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, gerou alvoroço global nesta quarta-feira (9): a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras para os Estados Unidos, com início em 1º de agosto. A medida não só chocou o mercado, mas também colocou o Brasil em destaque nos principais jornais americanos, como The New York Times, Bloomberg, CNBC e Washington Post.

O mais impactante, contudo, não foi apenas o alto percentual da tarifa — o mais alto já anunciado por Trump — mas sim a justificativa claramente política por trás dessa decisão.

Crítica Política e o Uso de Tarifas como Ferramenta

Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual criticava abertamente o tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele classificou o processo em andamento contra Bolsonaro como uma “vergonha internacional” e uma “Caça às Bruxas” que deveria ser encerrada imediatamente.


Carta de Donald Trump para o presidente do Brasil, Lula, sobre a taxação de 50% nas tarifas de exportação (Reprodução/X/@patricia_vasc)

A imprensa americana interpretou essa intervenção em um julgamento criminal de um país estrangeiro como uma demonstração extraordinária de como Trump usa as tarifas como uma ferramenta para diversos propósitos.

Justificativa política gera críticas e levanta dúvidas sobre coerência comercial

Veículos como a Forbes USA e a CNBC, destacaram a inconsistência da justificativa econômica de Trump. Ao contrário do que ele afirmou, os Estados Unidos mantêm um superávit comercial com o Brasil. A tarifa foi, portanto, imposta como uma punição por questões políticas e jurídicas internas do Brasil que desagradam a Trump, e não por razões econômicas.

A CNN ressaltou ainda que, apesar da censura ao julgamento de Bolsonaro, Trump ofereceu uma brecha: a isenção da tarifa seria possível caso o Brasil ou empresas brasileiras optassem por fabricar seus produtos nos Estados Unidos, uma oferta similar às feitas a outros líderes mundiais. A decisão eleva a insegurança nas relações comerciais americanas, ao atrelar políticas tarifárias a critérios puramente políticos.

Paulo Cunha Bueno rejeita acusação de tentar influenciar defesa de Cid

O advogado Paulo Cunha Bueno, integrante da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou não ter, em nenhum momento, tentado interferir na equipe de advogados do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A negativa foi feita após Agnes Cid, mãe de Mauro, declarar que houve pressão para trocar a defesa do filho.

Ética profissional e impedimentos legais impedem atuação

Cunha Bueno destacou dois pontos centrais para justificar sua conduta: primeiro, ele já representa Bolsonaro em outro caso, o que caracterizaria conflito de interesse se tentasse representar também Cid. Em segundo lugar, afirmou que segue os princípios éticos da advocacia, que proíbem diretamente a captação de clientes que já possuem advogado constituído.

Segundo o defensor, a troca de advogados jamais esteve em seu radar: “Jamais sugeri mudar a equipe jurídica de Cid, isso seria ilegal e antiético”, disse, enfatizando que não houve qualquer tentativa de assumir o caso do militar.


Advogado de Bolsonaro negou ter tentado obter informações sobre delação de Cid (Foto: reprodução/Instagram/@sbtnews)


“Distorções” com objetivo de manter delação

Cunha Bueno rebateu as afirmações de Agnes Cid, classificando-as como “falsas” e “propositalmente distorcidas”. Ele alegou que o conteúdo divulgado, tanto na petição quanto no depoimento por escrito da mãe, tem como único propósito resguardar os termos do acordo de colaboração premiada firmado por Mauro Cid.

Na visão do advogado, o episódio não passa de uma estratégia para manter intactos os benefícios já obtidos: “Os fatos foram interpretados de forma errônea, com o intuito claro de preservar a delação premiada dele”, acusou.

A acusação de Agnes consta em documento protocolado na Justiça, que menciona suposto contato de integrantes da defesa de Bolsonaro com familiares de Cid, pressionando por mudanças na representação jurídica do militar. A postura de Paulo Cunha Bueno, porém, busca demonstrar que tais ações são infundadas e não têm respaldo legal ou ético.

O advogado Paulo Cunha Bueno negou ao STF ter buscado informações sobre a delação de Mauro Cid.
Disse que nunca tentou assumir a defesa do militar.

Bolsonaro é diagnosticado com pneumonia viral

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou por exames médicos neste sábado (21) no Hospital DF Star, em Brasília, após sentir-se mal na sexta-feira (20), durante compromissos políticos em Goiás. Segundo o médico Cláudio Birolini, responsável por acompanhar a saúde do ex-presidente, os exames identificaram um quadro de pneumonia viral, mas ele garantiu que o estado de saúde de Bolsonaro é bom e que não há motivo para alarme.

Birolini explicou que os exames já estavam previamente agendados, mas foram antecipados devido ao mal-estar apresentado. Após a realização dos procedimentos, foi iniciado um tratamento medicamentoso para combater a infecção. O médico destacou que a pneumonia parece estar em fase de resolução, o que significa que o organismo já está reagindo positivamente.

Outros sintomas relatados por Bolsonaro

Além disso, Bolsonaro relatou episódios recorrentes de soluços e vômitos, que têm gerado desconforto significativo. Segundo Birolini, o soluço se intensificou recentemente, exigindo um ajuste na medicação. “Ontem acabamos aumentando a dose para combater o soluço, o que acabou deixando ele sonolento”, relatou o médico.


Hospital onde Jair Bolsonaro está internado (reprodução/x/@g1)

Birolini também chamou atenção para os hábitos alimentares do ex-presidente, apontando que a maneira como ele se alimenta pode estar contribuindo para os sintomas. “Ele come muito rápido, fala bastante durante as refeições e quase não mastiga os alimentos. Vamos trabalhar uma reeducação alimentar nesse sentido, não pela dieta em si, já que ele pode comer de tudo, mas pela forma como ingere os alimentos”, explicou.

Cirurgia que o ex-presidente realizou em abril

Em abril deste ano, Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia complexa, com duração de cerca de 12 horas, para tratar aderências intestinais e reconstruir a parede abdominal, sequelas das cirurgias realizadas após o atentado sofrido durante a campanha de 2018. No entanto, segundo Birolini, os sintomas apresentados nesta semana não têm qualquer relação com o pós-operatório. “Do ponto de vista cirúrgico, está tudo ótimo”, afirmou.

Apesar do diagnóstico e do tratamento em curso, Bolsonaro demonstrou disposição ao sair do hospital. Tirou fotos com apoiadores e concedeu entrevista à imprensa, mostrando que segue ativo, embora sua equipe médica recomende uma desaceleração na agenda para favorecer a recuperação completa.

Mal-estar força Bolsonaro a deixar evento e procurar médico em Brasília

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a apresentar sintomas de indisposição nesta sexta-feira (20), após participar de um evento agrícola em Goiânia. Segundo aliados, ele optou por retornar a Brasília antes do previsto e marcou uma consulta com o médico Claudio Birolini, responsável por sua última cirurgia abdominal. O mal-estar estaria ligado às recorrentes intervenções cirúrgicas no abdômen às quais Bolsonaro tem sido submetido desde o atentado a faca sofrido em 2018, durante a campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG).

A agenda em Goiás incluía um encontro com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), com quem o ex-presidente discutiria cenários políticos para as eleições de 2026. No entanto, o estado de saúde de Bolsonaro já vinha preocupando aliados desde terça-feira (17), quando ele participou de compromissos em Presidente Prudente (SP). Na ocasião, relatou estar debilitado: “Desculpa, estou muito mal. Vomito 10 vezes por dia.”

Cirurgias recorrentes e complicações abdominais

O mal-estar relatado por Bolsonaro não é um episódio isolado. Desde o atentado, o ex-presidente passou por várias cirurgias no abdômen, a mais recente delas em abril deste ano. Na ocasião, ele precisou ser transferido de urgência de um evento político no Rio Grande do Norte para Brasília, onde foi operado por doze horas no hospital DF Star. O procedimento foi considerado bem-sucedido, mas os médicos alertaram que novas intervenções poderiam ser necessárias.


Bolsonaro deixa o hospital DF Star três semanas após cirurgia em Brasília (reprodução/Evaristo Sa/Getty Images Embed)


A razão para isso está na própria natureza das lesões e da cicatrização intestinal. Segundo o médico Raphael Di Paula, chefe de cirurgia oncológica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, qualquer violação da cavidade abdominal pode levar ao surgimento de aderências — cicatrizes internas que podem causar obstruções. “A partir do momento em que você faz uma intervenção ali, pode gerar uma espécie de irritação ou inflamação que leva às cicatrizes e aderências”, explica.

Estado de saúde inspira preocupação

Diante das declarações recentes e do histórico cirúrgico de Bolsonaro, cresce a preocupação entre aliados e apoiadores quanto à sua saúde e à capacidade de manter uma agenda política intensa. A necessidade de novas intervenções médicas segue como uma possibilidade concreta, especialmente devido à natureza crônica das aderências intestinais.

O episódio mais recente reforça que, mesmo anos após o atentado, as consequências ainda impactam diretamente a rotina do ex-presidente. A continuidade dos sintomas indica que seu quadro clínico exige acompanhamento constante e pode influenciar, inclusive, seus planos políticos futuros.

Revista revela que Mauro Cid dribla ordem do STF e envia mensagens secretas

A revista “Veja” publicou uma reportagem que aponta que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, pode ter violado uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A ordem proibia o militar de se comunicar durante as investigações em que está envolvido.

Em seu depoimento recente no STF, Cid afirmou que não usou redes sociais enquanto estava com restrições impostas pela corte. Questionado pelo advogado de Bolsonaro sobre um perfil no Instagram que não estava em seu nome, ele negou ser o dono e disse que todos os seus celulares foram apreendidos.

Mensagens revelam contradições e bastidores

No entanto, a reportagem divulgou prints de conversas realizadas por uma conta chamada “Gabriela R”, que seria utilizada por Cid para trocar mensagens com pessoas próximas ao ex-presidente. Nessas conversas, o militar teria apresentado versões diferentes daquelas que relatou oficialmente à Polícia Federal (PF), o que levanta dúvidas sobre a veracidade de seus depoimentos.

Como colaborador da Justiça, Mauro Cid tem o compromisso de fornecer informações verdadeiras para manter os benefícios do acordo. Caso contrário, pode perder esses direitos e ter a delação anulada.


Mauro Cid é questionado por advogado de Bolsonaro durante depoimento no STF sobre plano de golpe (Vídeo: Reprodução/YouTube/@CNNbrasil)

Enquanto prestava informações à PF sobre ações antidemocráticas, ele enviava mensagens para terceiros relatando detalhes das audiências e manifestando desconforto com a condução da investigação. Segundo as conversas, o delegado responsável teria tentado manipular suas declarações, e o ministro Alexandre de Moraes já teria decidido condenar alguns réus antes do julgamento.

As trocas aconteceram entre o fim de janeiro e o começo de março de 2024, meses antes da homologação do acordo pelo STF.

Relatos de reuniões e tentativas de impedir posse

No depoimento prestado na presença de Bolsonaro e outros membros do governo anterior, Cid confirmou que presenciou encontros entre o ex-presidente e militares para discutir ações que poderiam impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Também afirmou que Bolsonaro acreditava em fraude eleitoral e que o comandante da Marinha da época teria colocado tropas à disposição do ex-presidente.

O Ministério Público entende que essas informações, somadas a outros documentos e depoimentos, comprovam uma tentativa de golpe no final de 2022.

Defesa contesta autenticidade das mensagens

A defesa de Mauro Cid negou a autenticidade das imagens divulgadas e classificou as capturas de tela como uma montagem.

Os advogados afirmam que ele não se expressa da forma mostrada nas mensagens e ressaltam que as imagens não apresentam data ou horário, o que compromete sua credibilidade.

Veículos jornalísticos estrangeiros divulgam interrogatório de Jair Bolsonaro no STF

Jornais estrangeiros divulgaram amplamente o interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente responde ação penal pela tentativa de golpe. As publicações ocorreram nesta terça-feira (11).

A mídia internacional destacou que este foi o primeiro julgamento de um chefe de governo do Brasil acusado de tramar um golpe de Estado.

Mídias europeias

O The Guardian escreveu em seu site: “Bolsonaro nega plano de golpe, mas admite discutir ‘caminhos alternativos’ para permanecer presidente”. O jornal britânico ainda citou o pedido de desculpas de Jair Bolsonaro ao ministro Alexandre de Moraes.


Bolsonaro durante interrogatório dos réus da ação penal (Foto: reprodução/Gustavo Moreno/STF)

Havia alguma expectativa em relação ao confronto com o juiz principal do caso, o ministro Alexandre de Moraes — ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a quem Bolsonaro já chamou de ‘idiota’ e ‘canalha’. Mas Bolsonaro pediu desculpas a Moraes e a outros dois ministros por terem afirmado em uma reunião, cuja gravação foi apresentada como prova, que teriam recebido entre US$ 30 milhões e US$ 50 milhões cada um para fraudar a eleição”, escreveu a matéria do jornal.


O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes (Foto: reprodução/Mateus Bonomi/Getty Images Embed)


A BBC destacou que o ex-presidente negou seu envolvimento na tentativa de golpe. A publicação britânica citou o momento em que Bolsonaro diz que a tentativa de golpe era uma “coisa abominável” e que “nunca houve a menor possibilidade” em seu governo.

O El País publicou que Bolsonaro se tornou réu por liderar trama golpista contra Lula. O jornal espanhol escreveu “O ex-presidente insiste, quando questionado pelo juiz Moraes, que não há levante ‘sem líder, Forças Armadas ou apoio’.”

O Le Figaro falou sobre o depoimento do ex-presidente. “O ex-líder nacional enfrenta ameaça de uma longa pena de prisão após ser acusado de participar de uma suposta conspiração para permanecer no poder”, disse a publicação.

Mídia americana

O La Nación, jornal argentino, apontou que Bolsonaro “negou que tenha havido um plano de ruptura democrática para impedir que Luiz Inácio Lula da Silva assumisse o cargo após a vitória eleitoral de 2022, embora tenha admitido ter mantido conversas com altos funcionários das Forças Armadas para analisar medidas legais contra o resultado da disputa”. 

O veículo ainda escreveu que o ex-presidente é “conhecido por expressar nostalgia pela ditadura” e “desafiou abertamente o sistema judiciário brasileiro durante seu mandato”.

Diante do juiz Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, Bolsonaro reconheceu que discutiu alternativas ‘dentro da Constituição’ com comandantes militares, sem especificar que tipo de ações estavam sendo cogitadas”, pontuou.

A rádio pública estadunidense, NPR, avaliou a ação penal no STF como “histórica” e destacou o fato de que pela primeira vez na história do Brasil, um ex-líder de Estado passa por julgamento por tentativa de derrubar um governo.

Oito de janeiro: próximos passos do STF na ação penal que apura trama golpista

O Supremo Tribunal Federal concluiu a fase de interrogatórios da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado em janeiro de 2022. Os oito réus, que, conforme a Procuradoria-Geral do República (PGR), integram o “núcleo crucial” do processo que apura a tentativa de instauração do golpe, foram ouvidos. O fim da etapa aconteceu nesta terça-feira (10)

Com o encerramento da instrução processual, etapa que visa coletar provas, o caso vai para as estampas finais antes do julgamento. A expectativa é que a ação passe por análise pela Primeira Turma do STF no segundo semestre, possivelmente entre os meses de setembro e outubro.


O ex-presidente Jair Bolsonaro, que é um dos integrantes do “núcleo crucial”, responde perguntas no interrogatório (Foto: reprodução/Fellipe Sampaio/STF)

Próximas etapas

Com o fim da fase dos interrogatórios, o prazo para solicitação de novas diligências por parte das defesas e da acusação começa. Esses pedidos podem incluir medidas de investigação complementares que serão analisadas pelo relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes.

Em seguida, começa o período das alegações finais. Essa etapa prevê o período de 15 dias para que as partes manifestem seus argumentos por escrito. As alegações finais são um resumo dos principais pontos apresentados durante o processo e trazem os requerimentos de condenação ou absolvição.

Encerradas as alegações, o processo vira pauta de julgamento da Primeira Turma do STF, composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Luiz Fux, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia.


Supremo Tribunal Federal (Foto: reprodução/Sergio Lima/Bloomberg/Getty Images Embed)


Em caso de condenação, os ministros fixarão pena individual para cada réu. Caso sejam absolvidos, o processo será arquivado. Em ambos os cenários, um recurso dentro da própria Corte é cabível.

Os réus do “núcleo crucial”

Dentre os oito que se tornaram réus e integram o núcleo 1 estão: o ex-presidente Jair Bolsonaro; o general, ex-ministro e vice de Bolsonaro em 2022, Walter Braga Netto; o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Alexandre Ramagem; o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres; o ex-comandante da Marinha, Almir Garnier; o general e ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira; e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.