Durante esses últimos dias, diversos cineastas se manifestaram em repúdio a forma indiferente, a qual, o Oscar reagiu a um de seus premiados. Na madrugada entre a segunda-feira (24) e a terça-feira seguinte, o diretor palestino Hamdam Ballal sofreu uma série de ataques e foi levado ao cárcere. Os episódios, gravados pelo co-diretor de sua obra vencedora, repercutiram mundialmente e após uma gama de cobranças a academia, a resposta finalmente chegou, porém, não é a resposta esperada.
Segundo o portal da “Uol” o jornalista israelense, também co-diretor do documentário “No Other Land“, Yuval Abraham, foi o primeiro a se pronunciar em uma denúncia feita no X (ex-Twitter). Alegando que infelizmente a Academia dos Estados Unidos, que os deu o Oscar há três semanas, se recusou a apoiar Hamdan Ballal publicamente enquanto ele era agredido, torturado e mantido preso por soldados israelenses.
— O Jornalista israelense se pronuncia sobre a resposta da Academia aos ataques sofridos pelo colega palestino premiado pela categoria do Oscar (Postagem: Reprodução/X (ex-Twitter)/@yuval_abraham)
Abraham ainda afirmou que o Oscar não sentiu necessidade de se pronunciar por conta de outros palestinos, também agredidos no ataque dos colonos, e por tanto o ataque sofrido poderia não ter relação com o filme. Porém, Hamdan afirmou ter ouvido os soldados fazendo piada sobre o Oscar.
Uma desculpa para se calar
Segundo o co-diretor de “Sem Chão” o ataque foi claramente escolhido por conta do documentário e o fato de Ballal ser palestino.
“Aparentemente, isso deu à Academia uma desculpa para ficar calada quando um cineasta que eles homenagearam, que vive sob uma ocupação israelense, mas precisava dela”, desabafou o jornalista.
O cineasta ainda ressalta que outras organizações se pronunciaram dando apoio ao colega, destacando o papel da Academia Europeia de Ciências e Artes e uma gama de profissionais do audiovisual que sentiram a dor da vítima.
Quebra de confiança
O portal “Omelete” trouxe a revolta de mais vozes do mundo artístico e apontou como consequência outros cineastas, inclusive votantes da própria premiação, como o documentarista AJ Schnack (Kurt Cobain: Retrato de uma Ausência), que escreveram uma resposta ao CEO da Academia, Bill Kramer, e à presidente, Janet Yang.

O diretor independente começou pontuando a dificuldade para se expressar adequadamente e a decepção, mesclada com a raiva, pela péssima declaração enviada aos membros da academia. Seguindo chocado e furioso pela sensação de abandono do Oscar, o cineasta afirma que a organização da premiação norte-americana deixou uma brecha para que os membros vejam:
“Vocês (Oscar) veem o sequestro e espancamento de um premiado recente como algo sobre o qual os membros terão ‘muitos pontos de vista únicos’. Com todo respeito, é uma sugestão verdadeiramente hedionda”, disse Schnack.
Ainda com um sentimento de quebra de confiança por parte dos jurados, já que segundo o artista essa declaração deixou claro que a presidência do festival reconhecido mundialmente não usará sua voz caso algo assim aconteça a outro membro no futuro, mesmo que, segundo AJ, seja algo feito por um governo norte-americano ou outro.
União e apoio entre os membros
Com questionamentos de outros cineastas indagando se a Academia realmente se importa com a liberdade artística e os direitos desses artistas do audiovisual, com consequência diversos nomes prestigiados da categoria utilizaram as redes sociais para apoiarem as falas de Yuval Abraham e AJ Schnack.
A votante Jehane Noujaim, indicada ao Oscar em 2014 pelo documentário The Square, apoiou o colega e agradeceu aos depoimentos de AJ pontuando que também escreverá uma carta. Em seguida, a produtora Ina Fichman, indicada em 2023, afirmou que todo o departamento de documentários deveria assinar essa carta e torná-la pública e escrever tanto para o Presidente quanto para a SEO da academia.
A diretora vencedora do Emmy, Rachel Leah Jones, por “Advocate”, deu uma resposta polêmica seguindo a premissa de que essa resposta do Oscar é errada, mas é também um aviso aos membros, incluindo “os preguiçosos e confortáveis predominantemente brancos, sob o regime de Trump” que isso não é sobre “pontos de vista únicos”, mas, é sobre certo e errado.