Projeto que torna adulteração de bebidas crime hediondo é aprovado pela Câmara

Em sessão no plenário da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (29), foi aprovado de forma simbólica o projeto de lei que torna a adulteração de bebidas e produtos alimentícios um crime hediondo. Serão considerados os casos onde houver morte ou lesão corporal graves.

O projeto foi aprovado após o surto de casos de mortes e intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas no estado de São Paulo e em outros estados. Atualmente, 58 casos foram confirmados e outros 44 estão sob investigação pelo Ministério da Saúde. Ao todo, 15 mortes foram relacionadas à intoxicação por metanol em todo o país.

O projeto de lei

No texto aprovado pela Câmara, em casos de morte por adulteração de bebidas e produtos alimentícios, a pena para quem cometer o crime pode chegar a 15 anos de reclusão. Para casos de lesão corporal grave, a pena pode variar de 4 a 6 anos, com possibilidade de multa. O projeto foi aprovado de forma simbólica pela Câmara, isso é, não teve contabilização de votos e agora segue para aprovação do Senado Federal.


Ação de fiscalização de bebidas alcoólicas em Curitiba (Foto: reprodução/Valquir Kiu Aureliano/Prefeitura de Curitiba)

O assunto tem tramitado na Câmara desde 2007 e estava parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sendo resgatado recentemente por conta do número de casos obtidos por intoxicação por bebidas alcoólicas adulteradas em vários estados. A proposta foi feita pelo deputado Kiko Celeguim, do PT, do estado de São Paulo. Ainda no projeto, é prevista a criação de um sistema nacional para rastrear a produção de bebidas alcoólicas, alimentos e produtos de cosméticos e limpeza também, considerados “sensíveis” em suas regulamentações. 

Casos de metanol

Em uma atualização do Ministério da Saúde, mais 58 casos foram confirmados no Brasil, sendo o maior número em São Paulo, com 44 casos confirmados. Os estados de Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Tocantins também registraram casos confirmados. 

O número de óbitos subiu para 15, sendo 9 somente no estado de São Paulo. Casos suspeitos de intoxicação ou mortes por metanol estão sendo investigados pelo Ministério da Saúde, que continua com a fiscalização em conjunto com a Polícia Federal e lideranças dos estados afetados. 

Fábrica clandestina ligada a intoxicação por metanol é localizada pela polícia

A Polícia Civil de São Paulo descobriu nesta sexta-feira (10) uma fábrica clandestina de bebidas alcoólicas em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Segundo as autoridades, o local é suspeito de produzir as bebidas que causaram a morte de duas pessoas por intoxicação com metanol no estado.

De acordo com a investigação, a fábrica pirata comprava etanol de postos de combustível, que estaria misturado com metanol, uma substância altamente tóxica. Essa mistura era usada na fabricação de bebidas como vodca, vendidas de forma irregular em bares e distribuidoras.

Polícia Civil traçou uma linha de investigação com os casos de intoxicação

A descoberta foi feita durante uma operação que investigava casos de adulteração de bebidas após os primeiros óbitos registrados na capital paulista. As vítimas haviam consumido vodca em um bar na Zona Leste de São Paulo, o que levou os policiais a identificar os responsáveis pela produção.

Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os agentes encontraram o local onde a bebida era fabricada. A dona da fábrica foi presa em flagrante e confessou ter comprado as garrafas de uma distribuidora não autorizada. Ela deve responder por falsificação e adulteração de produtos alimentícios, crime que pode render de 4 a 8 anos de prisão, além de multa.

Outros endereços em São Caetano do Sul e na capital paulista também foram vistoriados. Ao todo, oito pessoas foram levadas à delegacia para prestar depoimento. A polícia apreendeu garrafas, bebidas, celulares e equipamentos, que serão analisados pela perícia.


Na tarde desta sexta (10), a Polícia Militar encontrou outra fábrica clandestina, localizada em Barueri. (Foto: Reprodução/X/@PMESP)

Vítimas das bebidas com metanol

Uma das vítimas identificadas é o empresário Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, que teria consumido vodca falsificada em um bar na Mooca. No local, os investigadores apreenderam nove garrafas, e os peritos encontraram altos índices de metanol, que variavam de 14,6% a 45,1%.

Outro caso é o de Bruna Araújo, de 30 anos, que morreu após ingerir a bebida contaminada em uma balada em São Bernardo do Campo. Durante a operação, os policiais também cumpriram oito mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao bar e à distribuidora que teriam fornecido as bebidas. Celulares e computadores foram apreendidos, e os suspeitos foram levados para prestar esclarecimentos.

Perícia confirma que metanol foi adicionado em bebidas apreendidas em SP

Análise realizada pelo Instituto de Criminalística da Polícia Científica de São Paulo aponta que o metanol encontrado em bebidas alcoólicas destiladas foi adicionado, confirmando que a substância não é resultado de uma destilação natural. A perícia foi realizada em dois grupos de garrafas, mas não foi divulgado pelo instituto a quantidade ou os tipos.

Desde que os casos de intoxicação por metanol começaram a surgir em São Paulo, autoridades estaduais intensificaram as investigações. Na última sexta-feira (3), o IC (Instituto de Criminalística) articulou uma força-tarefa para analisar garrafas apreendidas em fiscalizações, buscando investigar a adulteração das bebidas com metanol. Até quinta-feira passada (2), mais de mil garrafas já haviam sido confiscadas e entre elas, 250 haviam sido encaminhadas para análise no instituto.

Análise pericial

Segundo o Instituto de Criminalística, de fato o metanol encontrado nas garrafas surgiu de uma adulteração, e não como resultado de destilação natural. Entretanto, não foi confirmado pelo órgão a quantidade e os tipos de bebidas do grupo que confirmaram isso. 

Por meio de nota oficial nesta terça-feira (7), a instituição afirmou que atua 24 horas na realização de perícias de constatação e concentração das amostras levadas pela Polícia Civil. Além disso, o órgão complementou informando que também é realizada a análise documentoscopia de rótulos e lacres das garrafas. 


Aumento dos casos de intoxicação por metanol preocupam autoridades (Vídeo: reprodução/YouTube/g1)

Em primeiro momento, o processo de análise se inicia com a checagem das embalagens, em busca de rompimentos ou sinais de reutilização da bebida. Em seguida, a bebida vai para um processamento que separa os componentes do líquido, assim verificando as substâncias presentes na mesma. Somente após o laudo final é que se sabe se há presença do metanol e a quantidade da substância presente.

De acordo com o governo de SP, 16 mil garrafas foram recolhidas desde 29 de setembro. Para enfrentar esse cenário, o Instituto de Criminalística montou uma força-tarefa com a Polícia Civil e a Vigilância Sanitária para apurar os casos e analisar garrafas apreendidas, além de realizar fiscalizações em bares e distribuidoras.

Investigações em São Paulo

Até esta terça, haviam sido confirmados 18 casos de intoxicação por metanol, de acordo com o governo de São Paulo. No momento, há 158 casos sendo investigados e 38 foram descartados como intoxicação pela substância. Entre os casos, três mortes foram confirmadas e sete seguem em investigação.

Nas investigações em andamento, as autoridades trabalham com duas hipóteses de como o metanol foi parar nessas bebidas. A primeira é de que o metanol pode ter sido usado para higienizar garrafas reutilizadas, de acordo com o governador de SP, Tarcísio Freitas. A segunda hipótese é de que o metanol foi usado para aumentar a quantidade de bebidas falsificadas durante a produção. A Polícia Federal não descarta nenhuma hipótese até o momento, até mesmo de que a adulteração tenha sido uma manobra realizada após uma operação contra o crime organizado no fim de agosto.

Tarcísio, governador de São Paulo, pede desculpas após piada sobre Coca-Cola em coletiva

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), divulgou um vídeo de retratação na noite de terça-feira (7), após fazer uma piada considerada insensível durante uma coletiva de imprensa em São Paulo sobre os casos de intoxicação por metanol no estado. Ele havia dito que “só se preocuparia quando começassem a falsificar Coca-Cola”, em referência às bebidas adulteradas que já provocaram mortes e internações.

A declaração, feita em meio a uma crise de saúde pública, gerou forte repercussão negativa nas redes sociais e levou o governador a admitir o erro. Tarcísio afirmou que a fala foi inadequada diante da gravidade da situação e pediu perdão às famílias das vítimas.

Governador promete reforçar fiscalização e ações preventivas

No pronunciamento, Tarcísio reconheceu o erro e afirmou que a tentativa de descontrair a entrevista foi inadequada diante da gravidade da situação. “Errei. Foi uma brincadeira infeliz. Peço perdão às famílias que estão sofrendo com a perda de entes queridos e reafirmo nosso compromisso de combater esse crime com todo rigor”, declarou.


Publicação de CNN Brasil (Vídeo: Reprodução/Youtube/CNN Brasil)

Tarcísio anunciou que o governo estadual ampliará as ações de combate à falsificação de bebidas. Entre as medidas, estão o convênio com o setor privado, a destruição de estoques suspeitos e a criação de um programa de qualidade voltado para distribuidores e comerciantes.

“Não temos compromisso com o erro, mas com as pessoas. Nosso foco é garantir segurança e transparência ao consumidor”, disse. Segundo o governador, mais de 7 mil garrafas adulteradas já foram recolhidas em operações recentes.

Casos de intoxicação aumentam e investigação continua

A perícia da Superintendência de Polícia Técnico-Científica confirmou a presença de metanol em bebidas de duas distribuidoras. A substância, usada em produtos industriais, é altamente tóxica e pode causar cegueira e até morte quando ingerida. De acordo com o boletim da Secretaria da Saúde, São Paulo concentra 18 casos confirmados de intoxicação por metanol, 158 em investigação e 10 mortes suspeitas.

“Nosso trabalho é proteger vidas, e é isso que continuaremos fazendo”, disse Tarcísio.

O governo trabalha com duas hipóteses principais: o uso indevido do metanol para higienizar garrafas reaproveitadas ou para aumentar artificialmente o volume das bebidas falsificadas. As autoridades reforçam que a população deve desconfiar de preços muito baixos, comprar apenas de locais conhecidos e inutilizar garrafas vazias.

Ministro diz que Hungria não teve intoxicação; equipe do cantor rebate e pede laudos

Após o ministro da Saúde negar intoxicação por metanol, equipe de Hungria diz que ainda não teve acesso aos laudos e aguarda confirmação oficial. A equipe do cantor Hungria contestou, nesta segunda-feira (06), a declaração do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que afirmou que os exames realizados no artista não apontaram presença de metanol nem de substâncias derivadas.

Em entrevista, Padilha disse que o resultado foi obtido após o Ministério da Saúde encaminhar as amostras para um centro de referência em toxicologia do SUS. O ministro explicou ainda que os testes analisaram possíveis derivados tóxicos, como o ácido fórmico, e todos deram negativo.

Assessoria aguarda resultados oficiais

 

Em nota enviada à imprensa, a assessoria de Hungria afirmou que ainda não teve acesso aos laudos oficiais e, portanto, não confirma o resultado divulgado pelo ministro.


“Até o momento, não recebemos o laudo conclusivo dos exames laboratoriais e seguimos aguardando o retorno oficial para esclarecer o caso”, diz o comunicado.

 

Internação e tratamento

 

Hungria foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília, após apresentar sintomas como fortes dores de cabeça, visão turva e vômitos. Os médicos chegaram a suspeitar de intoxicação por metanol, substância tóxica presente em bebidas adulteradas.
O artista recebeu alta no domingo (5) e segue em acompanhamento médico, durante a internação, o cantor recebeu tratamento com etanol  antídoto usado nesses casos e foi submetido a sessões de hemodiálise.


Hungria recebe alta após internação por intoxicação (Foto: reprodução/Instagram/@hungriaoficial)

Casos em investigação

De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 200 casos suspeitos de intoxicação por metanol estão sendo investigados em todo o país. Parte deles já foi confirmada, e o governo mantém ações de monitoramento e alerta às autoridades locais.

Padilha aproveitou para reforçar o alerta à população sobre o consumo de bebidas de origem desconhecida. Assim, o ministro da saúde destacou que bebidas sem procedência representam um risco grave à saúde. Portanto, a recomendação segue sendo evitar qualquer produto sem selo de fiscalização oficial. 

 

Tarcísio faz declarações sobre a crise do Metanol

O estado de São Paulo concentra mais de 82% dos casos do país de intoxicação por metanol em bebidas: 15 confirmados e 164 em análise. A situação acende alertas sanitários, movimenta poderes e provoca reações intensas no debate público — sobretudo diante das falas recentes do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Falas de Tarcísio geram polêmica 

A crise provocada pelas intoxicações por metanol em São Paulo ganhou contornos políticos após as declarações do governador. Em meio ao aumento de casos e mortes causadas por bebidas adulteradas, Tarcísio adotou um tom leve e irônico — que gerou reações negativas de autoridades sanitárias, opositores e especialistas em comunicação pública. Durante coletiva após reunião com a indústria de bebidas, o governador disse, em tom de brincadeira: “No dia que começarem a falsificar Coca-Cola, vou me preocupar.”

Embora a declaração tenha caráter cômico, ela suscitou críticas. Num momento em que mortes já foram registradas — inclusive o óbito de uma mulher de 30 anos em São Bernardo do Campo — há quem enxergue descaso diante da gravidade do tema.  Tarcísio tentou relativizar, afirmando que não “se aventuraria nessa área” pois “não é sua praia”, e que a iniciativa privada demonstrou “vontade enorme de colaborar” nas investigações.


Governador Tarcísio de Freitas (Foto:Reprodução/Getty Imagens Embed/Ton Molina)

Repercussão imediata e críticas

Após a repercussão negativa, o governador tentou esclarecer suas declarações, afirmando que a frase foi “mal interpretada” e que o governo está empenhado em investigar os casos. “De maneira alguma quis ironizar. Tenho total respeito pelas famílias e pelas vítimas. O que eu disse foi apenas que o Estado não fabrica bebida, e que o problema vem de falsificação criminosa. Estamos combatendo isso com rigor”, afirmou.

Ele também reforçou a parceria com o setor privado: A indústria de bebidas demonstrou vontade enorme de colaborar. Todos estão mobilizados para encontrar a origem do metanol. Não é momento de politizar a tragédia.”

Mesmo assim, a fala seguiu repercutindo. Para alguns parlamentares da oposição, a ironia foi  desrespeitosa. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) criticou o governador nas redes sociais: “É inaceitável que um governador se porte dessa maneira!”

As hipóteses investigadas

A Polícia Civil de São Paulo trabalha com duas linhas principais:

  1. Reutilização de garrafas — hipótese de que garrafas reaproveitadas, sem descarte adequado, foram higienizadas com metanol de forma incorreta.
  2. Injeção deliberada de metanol — possibilidade de adulteração consciente, usando a substância para aumentar o volume das bebidas.

A perícia já confirmou a presença de metanol em bebidas de duas distribuidoras no estado. Além disso, mais de 7 mil garrafas suspeitas foram recolhidas recentemente. Tampas, rótulos, lacres e selos estão sob análise. Tarcísio afirmou que pedirá à Justiça a destruição dos materiais apreendidos.

O risco invisível ao consumidor

O metanol é uma substância extremamente perigosa: metabolizado pelo fígado, forma compostos tóxicos que afetam o cérebro, nervos, fígado e rins. Pode causar cegueira, insuficiência respiratória, coma e morte. O agravante é que não há cheiro, cor ou sabor perceptível que denuncie sua presença em uma bebida.

As autoridades recomendam:

  • Desconfiar de preços muito baixos;
  • Verificar se há lacre e selo fiscal adequados;
  • Comprar apenas em pontos de venda confiáveis;
  • Exigir nota fiscal sempre.

Em caso de sintomas — como visão turva, náuseas ou dores abdominais — é essencial buscar atendimento médico imediato, informando a origem da bebida. 

Responsabilidade em tempos de crise

A crise das intoxicações por metanol em São Paulo vai muito além de uma questão sanitária. Ela expõe falhas históricas de fiscalização, negligência preventiva e a fragilidade de uma comunicação pública que deveria proteger, e não confundir. A tragédia mostra o quanto o Estado ainda reage mais do que antecipa — e como a população se torna refém de um sistema que só se mobiliza depois que vidas são perdidas.

Com isso, ao ironizar a gravidade da situação, Tarcísio de Freitas acaba transmitindo a ideia de que o problema é menor do que realmente é, enfraquecendo a confiança pública e diminuindo o senso de urgência da população diante de um perigo real.

Mais do que uma gafe ou um “tom mal interpretado”, as declarações do governador revelam um descompasso entre linguagem política e responsabilidade institucional. Em tempos de desinformação e medo, cada palavra dita por uma autoridade tem o poder de acalmar ou agravar uma crise.

Padilha anuncia chegada de antídoto contra metanol dos Estados Unidos

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, confirmou que o antídoto Fomepizol, usado no tratamento imediato de intoxicações por metanol, deve chegar ao Brasil ainda nesta semana. A carga, com 2,5 mil ampolas enviadas dos Estados Unidos, será recebida em um galpão do Ministério da Saúde no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. De lá, o medicamento será distribuído aos Centros de Informação e Assistência Toxicológica dos estados.

Fomepizol deve desembarcar no Brasil ainda nesta semana

As ampolas foram compradas da farmacêutica japonesa Daiichi-Sankyo, em articulação com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Segundo Padilha, “um paciente usa em média de duas a quatro ampolas” durante o tratamento. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a importação do Fomepizol de forma excepcional, já que o produto ainda não possui registro no Brasil. Até o momento, não há pedido formal de registro do medicamento junto à agência reguladora.

O Brasil contabiliza 16 casos confirmados de intoxicação por metanol: 14 em São Paulo e dois no Paraná. Padilha informou que, entre domingo e segunda-feira, não houve novos casos além dos já registrados no estado paulista, que ainda não havia divulgado seus dados até o fim da tarde. Casos suspeitos na Bahia e no Espírito Santo foram descartados, o que reforça o foco de atenção na região Sudeste, especialmente em São Paulo.


Brasil compra antídoto para Metanol (Vídeo: reprodução/YouTube/@cnnbrasil)

Laboratórios mobilizados para diagnóstico rápido

Diante da concentração “brutal” de notificações em São Paulo, com 178 casos suspeitos, o governo federal anunciou a disponibilização dos laboratórios da Unicamp e da Fundação Oswaldo Cruz para acelerar os diagnósticos. O objetivo, segundo Padilha, é garantir agilidade na identificação e tratamento das vítimas. “Estamos trabalhando para assegurar resposta rápida e eficaz a todos os estados”, disse o ministro, ao reforçar a atuação conjunta entre o governo federal e as autoridades locais.

Mesmo com o atraso na divulgação dos dados de São Paulo, o ministro descartou qualquer atrito com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). “Tenho tido uma relação sintonizada e alinhada de forma permanente. Desde o começo em que o ministério da saúde percebeu essa situação anormal. O atraso dos dados não tem qualquer sentido ou conotação nesse sentido (político)”, afirmou Padilha, reforçando que o foco é exclusivamente técnico e de saúde pública.

Metanol: 14 casos de intoxicação confirmados no estado de SP

Nesta segunda-feira, dia 06 de outubro, o Governo do Estado de São Paulo soltou um balanço a respeito das intoxicações por metanol no estado. O balanço confirmou que 14 pessoas realmente ingeriram metanol, e que outros 178 casos ainda estão sob investigação. A respeito das vítimas fatais, duas tiveram a causa da morte confirmada, e foram decorrentes da ingestão da substância tóxica. Outras sete mortes seguem sendo analisadas, e estão sob a suspeita de terem sido causadas pela ingestão de metanol.

A substância tóxica em São Paulo 

Os casos de intoxicação por metanol começaram a surgir no final de setembro. Várias pessoas foram internadas em hospitais na Região Metropolitana da cidade de São Paulo: uma delas perdeu a visão, enquanto outra entrou em estado de coma. Os casos da ingestão da bebida aumentaram de forma surpreendente: o número de casos era por volta de oito, menos de quinze dias atrás; atualmente, há mais de 170 casos no estado de São Paulo. 


Natuza Nery fala de falsificação de bebidas (Vídeo: reprodução/Instagram/@portalg1 @natuzanery)

O metanol é um tipo de álcool extremamente tóxico para seres humanos. A ingestão se dá por meio de bebidas adulteradas: bebidas que contém etanol – o tipo de álcool que pode ser consumido por humanos – são misturadas com a substância. O metanol, quando misturado com alguma bebida, é impossível de ser distinguido, por ser um líquido transparente, com cheiro e sabor quase idênticos ao álcool. Caso a ingestão de metanol aconteça, os sintomas aparecem entre 12 a 24 horas depois. Os sintomas iniciais são: dor de barriga, confusão mental, náusea e vômitos. O metanol ainda pode causar danos a estruturas oculares, aos rins, fígado e cérebro. 

Depoimento do governador e estabelecimentos interditados

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), deu um depoimento durante a divulgação do balanço: “Tem um problema aí que é estrutural, é um problema brasileiro, não é de hoje para quem tem um pouco mais de estrada. Quem lembra há 30 anos atrás mais ou menos na década de 90. Acho que em 1990 a gente teve um caso semelhante na Bahia, né? Nós tivemos aí quase 20 óbitos, né? Por consumo de bebida adulterada com metanol. Então é algo recorrente, é algo que vem acontecendo”.

Os órgãos competentes têm feito fiscalizações em estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas, como bares e distribuidoras de bebidas. Até agora, 11 locais foram interditados: Bebilar Comercial e Distribuidora de Alimentos e Bebidas, Brasil Excellance e Exportadora de Bebidas, BBR Supermercados, FEC Alves Mercearia e Adega, e Lanchonete Ministro.

Universidade da Paraíba lança solução que revela adulterações em bebidas alcoólicas

Pesquisadores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, estão dedicados a encontrar formas de aumentar a segurança no consumo de bebidas alcoólicas. Nos últimos anos, eles criaram uma técnica que permite identificar, de forma simples e rápida, a presença de metanol em destilados. O diferencial do método é a praticidade: em poucos minutos, sem reagentes químicos e a um custo baixo, é possível ter um resultado confiável, com até 97% de precisão.

Além de detectar o metanol, que pode causar sérios problemas à saúde quando ingerido, o sistema também aponta adulterações mais comuns, como a adição de água para aumentar o volume da bebida. A proposta, segundo a equipe, é contribuir tanto para análises laboratoriais quanto para a rotina de fiscalização, oferecendo uma alternativa que alia agilidade e confiabilidade.

Como a tecnologia funciona

A ideia central está no uso da luz infravermelha, aplicada diretamente sobre a garrafa, que não precisa ser aberta. Essa luz provoca alterações nas moléculas do líquido e gera informações que são processadas por um software específico. A partir dessa leitura, o sistema consegue identificar quais componentes pertencem naturalmente à bebida e quais foram introduzidos de forma indevida.

Esse processo torna a análise menos burocrática e mais acessível. Enquanto exames convencionais costumam depender de etapas demoradas e de insumos químicos, a nova metodologia entrega resultados em tempo reduzido. Embora os primeiros testes tenham sido realizados com cachaça (bebida típica brasileira e foco inicial do estudo), os pesquisadores afirmam que o mesmo princípio pode ser aplicado a outros destilados.

Avanços e novas soluções em estudo

O projeto começou em 2023 e, até 2025, já tinha rendido duas publicações na revista Food Chemistry, especializada em química e bioquímica de alimentos. Os artigos detalham a eficiência do método e ressaltam sua importância para ampliar a segurança no setor de bebidas.


O Ministério da Saúde registrou 113 casos de intoxicação por metanol (Vídeo: reprodução/YouTube/@bandjornalismo)

Paralelamente, o grupo vem apostando em novas ideias para aproximar o recurso do consumidor comum. Uma das iniciativas em andamento é o desenvolvimento de um canudo com uma substância que muda de cor ao entrar em contato com metanol.

“A gente está desenvolvendo uma solução em que vai ter um canudo impregnado com a substância química, que ao contato com o metanol, ela vai mudar de cor. Isso vai fazer com que o usuário também tenha uma segurança de, quando estiver consumindo a bebida, de que a bebida não tem o teor de metanol”, comenta Nadja Oliveira, pró-reitora de pós-graduação da UEPB.

A proposta é oferecer um meio simples para que qualquer pessoa possa verificar, no momento do consumo, se a bebida apresenta risco.

Uso em larga escala

O equipamento já mostra potencial para ser incorporado em rotinas de fiscalização e em indústrias que trabalham com destilados. A universidade, no entanto, ainda busca formas de viabilizar a produção em maior escala, de modo a tornar a tecnologia acessível a diferentes pontos da cadeia produtiva.

Com esse avanço, a expectativa é de que o controle sobre a qualidade das bebidas ganhe novas ferramentas, capazes de auxiliar tanto órgãos fiscalizadores quanto consumidores finais. Dessa forma, a pesquisa pode contribuir para reduzir fraudes e aumentar a confiança no que chega às prateleiras.

Anvisa busca antídoto contra intoxicação por metanol

Anvisa acionou autoridades internacionais para viabilizar a importação do fomepizol, antídoto contra intoxicação por metanol. A medida ocorre após o registro de dezenas de casos no Brasil ligados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas

Ação emergencial para trazer o fomepizol ao Brasil

Diante do aumento de casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas adulteradas, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) acionou autoridades reguladoras de diversos países para viabilizar a importação do antídoto conhecido como fomepizol. Até o momento, o Brasil já contabiliza 59 casos suspeitos de contaminação, sendo 11 confirmados em laboratório e 48 em investigação.

O medicamento, ainda sem registro sanitário no país, é considerado fundamental no tratamento da intoxicação, que pode causar sequelas graves e até levar à morte. Para acelerar sua chegada, a agência consultou formalmente órgãos reguladores dos Estados Unidos, Canadá, União Europeia, Argentina, México, Reino Unido, Japão, China, Suíça e Austrália, além de publicar edital para identificar fabricantes e distribuidores com disponibilidade imediata de fornecimento ao Ministério da Saúde.


Anvisa publica edital internacional por antídoto (foto: reprodução/Instagram/@anvisaoficial)

Alternativas e monitoramento nacional

Como medida emergencial, a Anvisa também identificou mais de 600 farmácias de manipulação com capacidade para preparar etanol em grau de pureza adequado para uso médico, considerado uma alternativa terapêutica ao fomepizol em situações de urgência.

Paralelamente, a agência reforçou a Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Sanitária para ampliar a capacidade de análise de amostras suspeitas. Foram indicados o Lacen/DF, o Laboratório Municipal de São Paulo e o INCQS/Fiocruz como referências para exames especializados.

O Ministério da Saúde, por sua vez, criou uma Sala de Situação para acompanhar os casos de intoxicação, coordenar estratégias de contenção e monitorar os riscos à população. O órgão destacou que as ocorrências estão relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, reforçando a necessidade de fiscalização e conscientização dos consumidores.

Com essas medidas, o Brasil busca garantir respostas rápidas para proteger a população diante da ameaça sanitária. O esforço conjunto entre Anvisa, Ministério da Saúde e laboratórios parceiros demonstra a gravidade do problema e a urgência em disponibilizar o tratamento adequado para evitar novas vítimas.