Polícia do RJ defende megaoperação e diz ao STF que seguiu protocolos

A Polícia Civil do Rio de Janeiro enviou, na última segunda-feira (17), um relatório ao ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal. O objetivo do documento é justificar a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão no fim de outubro. E ficou claro na defesa do órgão que a ação foi necessária porque a região abrigava líderes de facção armada e apresentava risco de confronto com forças de segurança.

Logo após a entrega do relatório, a corporação explicou que a operação foi planejada com base em investigações longas e detalhadas, conduzidas em parceria com o Ministério Público. A intenção, segundo o texto, era cumprir mandados contra suspeitos que estavam escondidos nas comunidades e impedir o avanço das atividades criminosas na região.

A operação foi considerada necessária

A Polícia Civil afirma que meses de investigação mostraram que a área funcionava como base de uma facção que domina partes da Zona Norte. O relatório menciona suspeitos com extensa ficha criminal, apontados como responsáveis por comandar atividades armadas e impor regras locais com violência.


Policiais em megaoperação no Rio de Janeiro (Foto: reprodução/Mauro Pimentel/ Getty Images Embed)


Os investigadores afirmam que esse grupo usava armas de alto calibre, drones, câmeras e rádios para vigiar entradas e saídas das comunidades, dificultando qualquer ação policial. Segundo o documento enviado ao STF, esse cenário levou as equipes a concluírem que a operação era urgente.

A corporação relata que havia 51 mandados de prisão pendentes contra integrantes da organização criminosa. Entre os alvos, estavam líderes considerados estratégicos para a manutenção das atividades do grupo. Além disso, o relatório destaca que a operação foi planejada com supervisão jurídica. Houve comunicação prévia ao Ministério Público e acompanhamento de promotores, seguindo regras estabelecidas pelo próprio Supremo.

Resultado da operação e consequências para a população

De acordo com a Polícia Civil, a ação resultou no cumprimento dos 51 mandados de prisão e em mais de 140 buscas. No total, 17 pessoas foram presas por ordem judicial e outras 83 foram detidas em flagrante. Também houve apreensão de armas, munições, drogas e veículos. Para os moradores, a expectativa é que o aumento de apreensões e prisões ajude a diminuir a circulação de armas e, consequentemente, reduza episódios de violência.

A corporação afirma que o objetivo é trazer mais segurança para quem vive na região, já que a retirada de armamento pesado e líderes criminosos tende a enfraquecer a estrutura local do grupo investigado. A Polícia Civil diz ainda que pretende manter ações de acompanhamento para evitar que a facção retome o controle territorial.

STF publica acórdão que confirma pena de 27 anos a Jair Bolsonaro

O Supremo Tribunal Federal (STF) publicou nesta terça-feira, 18, o acórdão que consolida a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão, resultado do julgamento do “núcleo 1” da trama golpista. A decisão, tomada pela Primeira Turma da Corte e encerrada no dia 14, ganha agora caráter oficial com a divulgação do documento completo.

O acórdão reúne os votos do relator, ministro Alexandre de Moraes, e dos ministros Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Flávio Dino, que acompanharam integralmente o entendimento de que houve participação ativa do ex-presidente em ações que atentaram contra a ordem democrática. A publicação formaliza não apenas a condenação, mas os argumentos jurídicos que levaram à decisão.

Detalhamento dos votos

No relatório, o ministro Alexandre de Moraes destacou que a conduta de Bolsonaro ultrapassou o limite da manifestação política, configurando “atos coordenados e estruturados para disseminar descrédito institucional e estimular medidas antidemocráticas”. Segundo o acórdão, o relator baseou sua análise em documentos, depoimentos e registros de comunicação considerados essenciais para a compreensão do caso.


Defesa de Bolsonaro tem cinco dias para ultimo recurso (Vídeo: reprodução/X/@Metropoles)


Os demais ministros acompanharam a tese central. Cristiano Zanin ressaltou que a atuação do ex-presidente não pode ser entendida como retórica política, mas como incentivo direto à violação de normas constitucionais. Já Cármen Lúcia apontou a “gravidade inédita” das ações investigadas, enquanto Flávio Dino reforçou que a integridade democrática exige a responsabilização de autoridades, independentemente de cargo ou popularidade.

Próximos passos e repercussões

Com a publicação do acórdão, abre-se o prazo para que a defesa de Bolsonaro apresente recursos dentro do próprio STF. No entanto, as possibilidades de reversão são restritas, já que o julgamento foi concluído por ampla maioria e fundamentado em extensa documentação.

A decisão se torna mais um marco na atuação do Supremo em casos que envolvem ataques à democracia, estabelecendo precedentes para futuras investigações. Nos bastidores políticos, a condenação reacende debates sobre os impactos na trajetória do ex-presidente, que já enfrenta outros processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no próprio STF.

O documento completo, disponível no portal da Corte, traz mais de uma centena de páginas com análises técnicas, reprodução de provas e fundamentações legais que embasam a condenação. A publicação deve orientar os próximos desdobramentos judiciais e servir de referência para estudiosos e operadores do Direito interessados no tema. 

Pedido de Bolsonaro é negado e processo de julgamento continua

Jair Bolsonaro (PL), teve seu pedido de revisão negado de forma unânime pela Primeira Turma do STF, fazendo com que a ação relacionada ao plano golpista avance para a fase final do processo. Com essa decisão, pelo menos quatro cenários distintos passam a se abrir para a execução da pena de 27 anos e três meses de reclusão, a serem cumpridos em Brasília.

Bolsonaro foi sentenciado por comandar uma tentativa de desmontar por meios violentos o Estado Democrático de Direito, configurando tentativa de golpe. Na última sexta-feira (7), os integrantes do colegiado rejeitaram o primeiro recurso protocolado pelos advogados do ex-presidente.

Alternativas para Bolsonaro

Caberá ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo processo que apura a articulação golpista, decidir em qual local Jair Bolsonaro deverá cumprir as penas impostas, assim que o caso for definitivamente encerrado. Especialistas em direito e figuras do meio político apontam quatro caminhos possíveis na capital federal.


Bolsonaro já está em prisão domiciliar (Vídeo: reprodução/Youtube/O Liberal)


A primeira seria prisão domiciliar para dar continuidade do modelo já adotado. Desde 4 de agosto (2025), Bolsonaro permanece sob custódia em sua casa, em Brasília. Também existe a sala de Estado-Maior, ambiente específico e regulamentado, normalmente situado em dependências da Polícia Federal ou em áreas militares, destinado à retenção de autoridades ou oficiais de alta patente.

No presídio comum o cenário em que a punição seria executada no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.  Já a instalação militar seria a alternativa que prevê o cumprimento da pena em área das Forças Armadas, semelhante ao regime aplicado ao general Braga Netto, ex-candidato a vice-presidente.

Saúde pode ser ponto determinante

A prisão domiciliar aparece entre as alternativas mais bem avaliadas em razão do quadro clínico do ex-presidente. Desde 4 de agosto (2025), Bolsonaro cumpre medida em casa e precisou deixar o local em três oportunidades para receber atendimento médico.

Pelo fato de ter ocupado a Presidência da República, discute-se ainda a possibilidade de ele ser mantido em uma área reservada ou em uma dependência especial da Polícia Federal em Brasília como forma de garantir sua integridade e evitar conflitos políticos. Situação semelhante ocorreu com o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que permaneceu custodiado por 580 dias, entre 2018 e 2019, na sede da Polícia Federal em Curitiba.

PF apura denúncias de importunação sexual e indiciamento de Silvio Almeida chega ao STF

A Polícia Federal concluiu parte da investigação que apura denúncias de assédio e importunação sexual envolvendo Silvio Almeida, que ocupou o Ministério dos Direitos Humanos no governo do presidente Lula. O ex-ministro foi oficialmente indiciado e, segundo apuração da TV Globo, o relatório final da PF já foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal. O caso está sob responsabilidade do ministro André Mendonça, que agora deve avaliar o material e repassá-lo para análise da Procuradoria-Geral da República.

As denúncias vieram à tona no ano passado, quando a ONG Me Too Brasil encaminhou às autoridades relatos que citavam comportamentos inadequados atribuídos a Almeida. Após a repercussão, ele acabou deixando o cargo em setembro. O ex-ministro nega todas as acusações, e sua equipe jurídica informou que não irá comentar o andamento do inquérito.

Avanços da apuração

A investigação reúne depoimentos de mulheres que afirmam ter passado por situações de assédio durante o período em que Almeida ainda estava na pasta. Entre elas está a atual ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que prestou depoimento à PF e relatou episódios que, segundo ela, começaram em 2023 e se estenderam por cerca de um ano.

Um dos episódios descritos envolve uma reunião de trabalho realizada em maio de 2023. Anielle contou que, durante esse encontro, Almeida teria a tocado de forma inapropriada por baixo da mesa. A reunião, segundo o que já é de conhecimento público, contou com a presença de outros membros do governo, incluindo o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues.

Depoimentos e histórico das denúncias

As declarações de Anielle Franco tornaram-se públicas em outubro do ano passado, quando ela explicou que o comportamento atribuído a Almeida teria começado de forma verbal e, com o passar dos meses, avançado para situações que considerou desrespeitosas e incompatíveis com o ambiente de trabalho.


Silvio Almeida nega assédio em depoimento à PF (Vídeo: reprodução/YouTube/@uol)


Depois da repercussão das falas de Anielle e de outras mulheres que também procuraram a ONG Me Too Brasil, o governo decidiu afastar Silvio Almeida para que o caso fosse investigado sem interferências. Desde então, o inquérito segue sob sigilo no STF.

Agora, com o relatório entregue pela Polícia Federal, a expectativa é que a Procuradoria-Geral da República se manifeste sobre os próximos passos. Até o momento, não há previsão de quando a PGR dará seu parecer.

Megaoperação no RJ: Moraes prorroga prazo de envio dos relatórios

Na última quarta-feira (12), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), estendeu o prazo para o envio dos relatórios e imagens da megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha. O governo do estado do Rio de Janeiro terá até a próxima segunda-feira (17) para entregar os materiais ao STF. 

A Procuradoria-Geral do Estado (PGE/RJ) havia solicitado essa prorrogação ao Supremo a fim de garantir que as secretarias envolvidas tivessem tempo suficiente para encaminhar os documentos solicitados pelo requerimento. 

Pedido de Moraes 

No último dia 8 de novembro, o ministro Alexandre de Moraes deu um prazo de 48h para o governo do RJ providenciar materiais, entre relatórios e imagens, que demonstrassem a atuação na megaoperação policial ocorrida nos complexos do Alemão e da Penha. 


Operação Contenção teve 121 mortos, entre quatro policiais (Foto: Reprodução/Wagner Meier/Getty Images Embed)


Entre os materiais solicitados por Moraes estão: as imagens de todas as câmaras corporais dos policiais que atuaram na operação, as cópias de todos os laudos realizados pelo Instituto Médico Legal (IML), relatórios policiais de inteligência que indicavam a presença dos alvos da operação no território, além de todos os documentos relacionados a realização da operação. 

Além disso, o ministro determinou esclarecimentos por parte do Ministério Público (MP-RJ), do Tribunal de Justiça (TJ-RJ) e da Defensoria Pública do estado do Rio de Janeiro. 

Operação Contenção

No último dia 28 de outubro, 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar, incluindo o BOPE, realizaram uma operação nos complexos do Alemão e da Penha, localizados na zona oeste do Rio de Janeiro. Com objetivo de apreender um dos líderes do Comando Vermelho, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, a Operação Contenção também tinha como finalidade o cumprimento de 180 mandados de busca e apreensão, além de 100 mandados de prisão, que foram expedidos pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes. 

Ao final, a operação resultou na prisão de 113 suspeitos, incluindo 33 de outros estados, como Amazonas, Ceará, Pará e Pernambuco. Além disso, considerada a ação policial mais letal da história brasileira, a megaoperação resultou na morte de 121 pessoas, incluindo quatro policiais. 

Moraes suspende inquérito sobre retirada de corpos na megaoperação do Rio

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou nesta segunda-feira (10) a suspensão do inquérito instaurado pela Polícia Civil do Rio de Janeiro para apurar a remoção de corpos após a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha. O ministro também ordenou que o governo estadual preservasse as imagens das câmeras corporais usadas pelos agentes na operação e as envie ao STF juntamente com os laudos das autópsias das vítimas.

No dia seguinte à operação mais letal da história brasileira, moradores retiraram mais de 70 corpos da área de mata que separa os dois complexos, gesto que motivou a abertura da investigação posteriormente suspensa.

Acusações de fraude

A Polícia Civil do Rio de Janeiro havia anunciado no fim de outubro que investigaria uma possível fraude processual por parte dos participantes da remoção de corpos no Complexo da Penha. O secretário Felipe Curi afirmou que os moradores estariam retirando roupas camufladas usadas por suspeitos mortos durante o confronto. Além disso, reiterou que o foco da investigação não seriam os familiares das vítimas, e sim possíveis ordens de lideranças de uma facção criminosa que supostamente ocultaria vínculos dos mortos com o grupo.

Durante coletiva, a Polícia Civil exibiu um vídeo que, segundo Curi, mostraria moradores retirando peças de roupas dos cadáveres ainda na mata e levando-os para a via pública. O secretário ironizou a diferença entre as imagens captadas durante o confronto — com suspeitos usando camuflados, coletes e armamento — e o estado em que vários corpos apareceram depois, vestindo apenas roupas íntimas ou peças simples.


Resgate de corpos em megaoperação no Rio (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Wagner Meier)


“Parece que entraram num portal e trocaram de roupa. Então nós temos imagens de pessoas que retiraram esses corpos da mata e colocaram em via pública e (foram) tirando as roupas desses marginais”

Moradores, por outro lado, argumentam que cortaram partes das vestimentas para facilitar a identificação feita por parentes. Segundo relatos no local, familiares pediam que os registros dos corpos fossem feitos sem as camuflagens, para que lesões ficassem mais visíveis no reconhecimento.

Números da operação

Felipe Curi confirmou 119 mortes na Operação Contenção, como foi chamada: sendo de 115 suspeitos e quatro policiais. A operação também resultou em 113 prisões, dez adolescentes apreendidos e na apreensão de 118 armas, incluindo 91 fuzis, além de artefatos explosivos.

O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, afirmou que a decisão de levar o confronto para a área de mata foi adotada como uma forma de proteger moradores. Segundo ele, a letalidade elevada era “previsível, mas não desejada”. Repetindo declarações do governador Cláudio Castro, Santos afirmou que as únicas vítimas do ponto de vista oficial foram os policiais mortos.

Primeira turma do STF forma maioria e rejeita recurso de Jair Bolsonaro

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nesta sexta-feira (7) para rejeitar o recurso de Jair Bolsonaro referente à condenação de 27 anos e três meses de prisão pela tentativa de golpe de Estado. Integrando a composição da Primeira Turma do STF, composta por Flávio Dino (presidente do colegiado), Cristiano Zanin e o relator Alexandre de Moraes,  o julgamento seguiu o voto do relator, que considerou que os argumentos da defesa já haviam sido debatidos. 

O recurso de Bolsonaro consistia em embargos de declaração apresentados no último dia antes do prazo expirar para que o processo entrasse em trânsito em julgado (quando não se cabe mais nenhum recurso), em 27 de outubro.  A defesa argumentava haver “injustiças”, “erros” e “equívocos” no acórdão da condenação.
Entretanto, o relator entendeu que o recurso consistia apenas em “mero inconformismo” com o resultado e que não apontava omissões ou contradições substantivas no julgamento anterior.

Primeira Turma do STF confirma entendimento do relator

Além do ex-presidente, também tiveram os seus recursos recusados integrantes do chamado núcleo 1 da trama investigada: Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Souza Braga Netto.
Um dos condenados desse grupo, o Mauro Cid, aprovou-se o trânsito em julgado e ele já iniciou cumprimento de pena.

O processo segue rumo à fase final

Com a rejeição dos recursos pela maioria, a Primeira Turma sinaliza que o processo segue rumo à fase final, na qual o relator poderá determinar o início de cumprimento das penas, caso não haja novos incidentes processuais.
A atuação do STF neste caso reforça o entendimento de que os embargos que visam rediscutir mérito já analisado dificilmente serão aceitos quando foram exaustivamente discutidos.


STF tem maioria  para negar recurso de Bolsonaro (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)


O resultado também serve como marco na condução de casos de alta repercussão envolvendo ex-altas autoridades, mostrando que o tribunal demanda consistência e novidade nos argumentos jurídicos apresentados pelas defesas. A definição reafirma o papel do STF como instância de controle final dos recursos no âmbito penal federal no Brasil.

STF desconsidera requerimento relativo à ‘compatibilidade’ de estado de saúde de Bolsonaro a prisões do DF

O relator do processo da trama golpista e ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, alegou nesta quinta-feira (6) impertinência do pedido do governo do Distrito Federal para que o ex-presidente Jair Bolsonaro fosse submetido a avaliação médica no intuito de averiguar a “compatibilidade” de seu quadro clínico com a estrutura prisional da capital federal. Com isso, a solicitação será retirada dos autos da ação penal do núcleo 1 do processo.

Moraes argumentou que o momento processual do pedido não foi o adequado, já que Bolsonaro ainda não recebeu condenação definitiva. Futuramente, no momento oportuno, o governo do DF poderá encaminhar novamente o requerimento.

DF pede avaliação clínica de Bolsonaro

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape) demandou ao STF ontem (5) que Jair Bolsonaro passe por uma consulta médica para avaliar se o condenado por tentativa de golpe de Estado está apto para alocação em alguma das unidades prisionais da unidade federativa.

Na demanda, a Seape cita a possível incapacidade do sistema carcerário da região em conceder o devido atendimento médico ao ex-presidente, que desde a facada sofrida durante a campanha presidencial de 2018, já passou por nove cirurgias abdominais. O órgão indica também a piora de saúde a partir de agosto, quando foi decretada sua prisão domiciliar.


Globo News repercute decisão de Moraes (Vídeo: reprodução/Instagram/@globonews)


A Seape justificou a antecipação do pedido pela proximidade do julgamento dos recursos dos réus do núcleo 1 da trama golpista, podendo levar à eventual prisão definitiva de Jair Bolsonaro.

Ex-presidente ainda aguarda condenação definitiva

Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão no final de setembro por liderar uma tentativa de golpe de Estado, com base em planos apreendidos, diálogos documentados e a delação premiada de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid.

Antes disso, ele já estava em prisão domiciliar, decretada pelo STF, sob justificativa de desrespeito a medidas cautelares impostas em julho, assim como tentativa de interferência no proceso e risco de fuga.

Cerca de um mês depois, em 22 de outubro, a decisão da condenação foi publicada no Diário da Justiça, abrindo o prazo para recursos. Cinco dias depois, Bolsonaro e mais seis réus do núcleo 1 da trama golpista (apontados como autores intelectuais da tentativa de golpe) entraram com o recurso dos embargos de declaração, destinado ao esclarecimento de omissões ou contradições do acórdão de julgamento. Eles pediram, entre outras questões, revisão de pena e invalidade da delação de Mauro Cid.

Os recursos começam a ser julgados amanhã (7), tendo a Primeira Turma da Corte, responsável pelo caso, o prazo de uma semana para depositar os votos. Caso negado, um segundo e último recurso poderá ser movido, determinando-se, após isso, o trânsito em julgado, que torna a condenação definitiva. Só depois o local de detenção de Jair Bolsonaro será escolhido e o pedido da Seape/GDF poderá ser feito e analisado.

Contradição nos dados oficiais: relatório do Rio ao STF aponta menos presos em megaoperação do que o anunciado

Uma discrepância significativa nos números de detidos durante a megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no último dia 28, colocou em xeque a comunicação oficial do Governo do Rio de Janeiro. No documento encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o governador Cláudio Castro informou ao ministro Alexandre de Moraes a detenção de 99 pessoas — sendo 82 em flagrante e 17 com mandados judiciais, incluindo dez adolescentes. Contudo, logo após a ação, as autoridades estaduais haviam divulgado as prisões de 113 suspeitos em coletiva de imprensa.

A Polícia Civil, por meio de nota, tentou justificar a diferença apontando uma “duplicação das informações iniciais”, alegando que alguns indivíduos presos em flagrante já possuíam mandados de prisão expedidos contra eles. A explicação, no entanto, não aplaca a crítica de entidades da sociedade civil. Passada mais de uma semana da megaoperação que resultou em 121 mortes — a mais letal da história do estado —, órgãos como a Defensoria Pública ainda não tiveram acesso à lista oficial com os nomes dos detidos.

OAB-RJ e especialistas cobram transparência

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) manifestou-se por meio de nota, ressaltando a importância do princípio da transparência e a necessidade de ampla divulgação dos dados da Operação Contenção à sociedade e aos órgãos competentes. A entidade, que instituiu um Observatório de Investigações para acompanhar os desdobramentos, afirmou que adotará “medidas cabíveis para a obtenção de informações precisas e consistentes sobre os fatos”.

Em tom crítico, Rodrigo Mondego, coordenador na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, classificou a inconsistência como uma “amostra de como o governo não age de forma profissional”. Ele questionou a falha de registro e apuração, dado o número de agentes envolvidos, incluindo policiais civis, que têm o dever de investigar.


Visita de Alexandre de Mores no RJ para analisar informações da megaoperação (Vídeo: reprodução/YouTube/


Detalhes do Relatório e Desvantagem Bélica

O relatório de 26 páginas entregue ao STF detalha ainda que, dos 99 detidos, 29 são provenientes de outros estados e 17 possuíam mandados de prisão em aberto. Curiosamente, o objetivo declarado da Operação Contenção era capturar cem procurados, um número próximo ao de prisões efetivas no documento final. Além disso, entre os 115 suspeitos mortos identificados, 59 possuíam mandados de prisão. No entanto, o governo não esclareceu se estavam entre os alvos prioritários da ação.

O governador Cláudio Castro defendeu o “uso proporcional da força” diante do que classificou como ameaça do Comando Vermelho (CV). O documento enumera táticas de “guerrilha urbana” e uso de “armas de uso restrito” pela facção criminosa contra os 2,5 mil policiais empregados.

O governo admite uma desvantagem bélica das forças de segurança, que estariam limitadas a fuzis 7,62 e 5,56, enquanto os criminosos dos complexos possuiriam um arsenal estimado em 800 a mil fuzis, incluindo armamentos de “altíssima potência” como os fuzis .30 e .50 — que, conforme especialistas, não podem ser utilizados pelas polícias brasileiras. Essa disparidade bélica, somada a elementos como túneis, minas terrestres e drones com capacidade de lançamento de granadas, dificultaria o avanço policial, apesar do planejamento, inteligência e suposto “respeito absoluto à lei”. Por fim, o número de armas apreendidas também apresentou variação, subindo de 118 para 122 no documento final (96 fuzis, 25 pistolas e um revólver), aumentando a lista de inconsistências nos dados oficiais da Operação Contenção.

Governador do Rio diz ao STF que operação seguiu diretrizes da constituição

Na última segunda-feira (3), o governador do estado do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL-RJ) disse ao Superior Tribunal Federal que a “Operação Contenção”, megaoperação policial feita nos Complexos do Alemão e da Penha, na última terça-feira, dia 28 de outubro seguiu diretrizes constitucionais. Cláudio Castro apresentou um documento para o ministro Alexandre de Moraes para fazer esclarecimentos.

O relatório apresentado pelo governador do Rio de Janeiro trazia as justificativas para a Operação Contenção, além de contextualizar o porquê da ação policial. O documento feito por Cláudio Castro também trazia informações a respeito do Comando Vermelho (CV), facção criminosa que atua no Rio de Janeiro. 

A operação

A megaoperação policial aconteceu no dia 28 de outubro, e deixou mais de 120 mortos. A Operação Contenção mobilizou 2.500 agentes, vindos da Polícia Civil e da Polícia Militar, que atuaram em conjunto. A  investida aconteceu nos Complexos do Alemão e da Penha, localizados na Zona Norte do Rio de Janeiro. 


Cláudio Castro faz esclarecimentos ao STF (Vídeo: reprodução/YouTube/@CNN Brasil)


A Operação Contenção visava capturar Edgar de Andrade, o Doca, líder da facção criminosa Comando Vermelho, também conhecido como CV. Também tinha como objetivo cumprir mandados de prisão relacionados ao Comando Vermelho, e fazer a apreensão de armas e drogas. A  operação se tornou a mais letal do Rio de Janeiro onde, pelo menos, 120 mortes foram registradas.

Castro e STF

O governador do Rio de Janeiro enviou um documento com justificativas ao Superior Tribunal Federal. “A atuação estatal, diante de organizações criminosas de perfil narcoterrorista, constituiu exercício legítimo do “poder-dever” de proteção da sociedade, concretizando o princípio da legalidade e reafirmando o compromisso das forças de segurança pública com a legalidade”.

Em sua fala, Castro ainda alegou “transparência e proteção dos direitos humanos, em estrita observância ao Estado Democrático de Direito e à defesa da vida”. A declaração visava mostrar que a Operação estava de acordo com as diretrizes constitucionais.